domingo, 25 de fevereiro de 2007

I'm not stupid. I'm a very special girl. (2006)

Sempre gostei de pensar que sou observada por certas celebridades já pertencentes a outros planos espirituais (se é que me entendem). Gosto da idéia de pensar que há 'gente ida' me olhando, como se me notasse e me incentivasse, porque pode haver algo em mim que não há nos outros. Gosto de imaginar, por exemplo, que a Cássia Eller me olha lá de onde for quando eu penso nela e em tantas outras mil coisas que me confortam quando ouço Malandragem. Gosto de pensar que, apesar dos tantos milhões de fãs de Nirvana, o Kurt arranja um espacinho na sua agenda de defunto para ficar me observando quando boto o CD mais famoso da banda para tocar, nos meus momentos mais íntimos de fúria. Também gosto de imaginar que o Sr. Machado de Assis me espiona quando escrevo; queria que ele soubesse que todas as coisas que tento colocar no papel têm sempre algo dele.
Também gosto de imaginar que, no meu possível futuro, haverá uma entrevista com a Marília Gabriela, na qual ela fará perguntas indecorosas e eu, ganhando um prêmio revelação, contarei toda a minha história através de metáforas, pedindo desculpas inclusive a todos aqueles que tiveram algo a ver comigo no passado e para os quais não dei o melhor de mim. [Ou seja, todo mundo?]
Às vezes, me imagino atriz. Interpretando papéis engraçados, mesmo bancando a chorona num daqueles dramalhões emocionantes que te fazem pensar. Imagino-me um daqueles talentos desconcertantes, que aparecem do nada, no entanto, com o que promete ser um futuro brilhante. Gosto de pensar que a Julia Roberts, a Winona Ryder e o Ethan Hawke gostariam de me conhecer e trabalhar comigo.
Imagino-me romântica sem causa, daquele tipo que escreve poema, rasteja e, se precisar, muda os planos de toda uma vida mudando-se para Timbuctu com a pessoa amada ao lado. Nem Camões seria tão romântico cego quanto eu! Gosto de pensar que o Damien Rice me notaria na multidão. Gosto de ser observada com interesse por outras pessoas; gosto que poucas pessoas me façam sentir interessante apenas com o que eu interpreto em seus olhares. [Deve ser tudo bobagem, maaas...]
Imagino que Deus esteja cansado de todos os meus sonhos, porém imagino que ele saiba que eu também estou. E que, apesar de eu sentir realmente um ódio imenso por mim mesma, Ele sabe que, no fundo, eu devo ser uma narcisista; narcisista inclusive por gostar de me odiar. Além disso, Deus me envia sinais e sabe que eu penso se tudo o que vivo já não foi traçado... Destino é coisa para pessoas especiais; eu devo ser especial, porque Deus me envia sinais e a minha vida... Bem... A minha vida demanda certa paciência - e Ele, contrariando todas as expectativas, tem tido muita, o que me leva a crer que eu tenho uma missão especial a cumprir e, por isso, Ele me atura.
Também gosto de pensar que nenhum psicólogo me agüentaria por muito tempo e que as coisas no mundo foram organizadas de tal maneira para que eu ficasse cheia delas e fizesse algo. Acho que é por isso que gosto de me sentir espiada por estas celebridades que foram e adoro sonhar tudo isso, pensando, até mesmo, em algum tipo de reconhecimento, entende? Não? Nem eu [definitivamente, não fui feita para holofotes]. Talvez eu deva me tornar a pandeirista de uma banda de samba-rock e morrer por meus ideais de fim-de-semana todo dia, leia e escreva sempre, conquiste o mundo à base de olhares e ame a quem você ama. Que tal?
Lógico, eu não morreria por isso. Morreria à bala me atirando na frente da arma para salvar alguém que me rouba o fôlego e com quem estabeleceria uma dívida cármica de encontro na próxima encarnação.
Putz, que o Renato Russo me ilumine com suas palavras sábias e me poupe de mim. Até.

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