segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Virada.

Eu não gosto de fazer um grande caso de viradas de ano, porque elas não significam muita coisa. Mas como eu acabo fazendo, ainda que elas não signifiquem muita coisa, gosto de fazer uma resenha do que se passou. Só pra ter uma noção de como o tempo tem passado; e não de tempo corrido, contado no relógio ou no calendário, mas sim de tempo-fase: fase boa, fase ruim.

2007 foi bom. Diria mais: muito bom. Começou em Campos do Jordão, no finalzinho do ano passado, quando conheci um pessoal batuta que me fez esquecer do que eu precisava esquecer por tempo suficiente pra desenhar um plano pra 2007. Lá, conheci o Marco, um capricorniano firmeza que me disse uma das coisas mais legais que alguém já me disse, senão A mais legal. Costumo dispensar as hipérboles, mas essa aí valeu a grandiosidade...
De Campos, seguimos pr'o Guarujá pra passar o Ano Novo por lá. Fui extremamente rude com a
Mãe numa noite em que ela insistiu em discutir o meu futuro comigo... Não costumo gostar de conselhos, tampouco de discussões acerca daquilo em mim que nem eu sei. Como uma boa aquariana, procuro - apenas - aprovação. Entretanto, estávamos relativamente bem à meia-noite do 31: deu pra curtir a passagem, apesar de mais alguns desentendimentos.
O 1° de janeiro eu passei dançando. Um Vinicius batuta, aquariano, ascendente em escorpião, me ensinou forró. Vinicius é um poeta flautista que eu conheci no Rascunhos, ainda em outubro de 2006. Rascunhos é um encontro pra gente que insiste em rabiscar versinhos e se despejar em palavras. No meu caso, servia como terapia. Eu não preciso de psicólogo, mas, admitindo uma dessas milhares de coisas que, um dia, a gente admite por admitir, preciso sim.
O começo do ano foi um marasmo total... Além d'eu ter me isolado mais do que o normal, meu aniversário resultou em mais uma briga com o pai, e dessa vez eu me arrependi por sentir grande parte da culpa que sentia por não estar disposta a tentar uma aproximação com ele. Não me culpo mais: agora, somos apenas um pai que não sabe ser meu pai e uma filha que não sabe ser filha dele.
Daí, por conta d'uns reajustes econômicos, eu tive que arranjar um emprego às pressas. A
primeira tentativa foi um total fracasso: precisei pular fora antes que alguma coisa fugisse ao meu controle. E, pra certas coisas, eu, que me conheço muito bem por sinal, sei onde barrar o escorregão. Anyway, acontece que o acontecimento que me levou a pular fora foi um baque t-o-t-a-l.
Coincidiu com a época do cursinho... No cursinho, eu conheci gente muuuuuito bacana. Aliás, só gente mesmo, porque professor, apesar de ser gente, não vi muito não. É que tem uma coisa que se chama "matar aula" que calhou de ser uma das minhas atividades favoritas eeeee, depois que comecei a trabalhar sério, necessárias! Todo mundo se dava bem com todo mundo; o pessoal tinha bom papo, era inteligente e muito, muito prestativo. Especialmente o Giu. Giu é um cara que estudou comigo quando eu era ainda um protótipo de gente e que, no decorrer desse ano, me tirou todas as dúvidas possíveis sobre química e física. Ele tá prestando pra geologia e é taurino, ou seja, é aquela coisa mansa; mexendo com terra então... :0D
Ainda no cursinho, conheci o Derek, virginiano com ascendente em capricórnio. Perfect match. Mas não, não. Minha curiosidade era apenas curiosidade. A dele eu guardei comigo pra me afastar. "Liberdade é saber dizer não" já dizia Mamãe...
Fo
i aí que comecei a trabalhar na videoLOUCAdora. Dormia 5 horas por noite :0) mais o tempo de uma aula no cursinho, pra compensar o cansaço. Demorei um tempo para me sentir à vontade com o pessoal do serviço, contudo, quando me soltei, pá! \o/ Era raro não me divertir na loja... Entre outros funcionários, conheci a Thaís - ariana, pra quem gravei um monte de cd's de rock baum - e o *-* Thiago. Thiago é aquariano e foi tipo o meu guru espiritual do ano. É já um cara mais vivido; morou um tempo lá nos EUA e me explicou a sensação do "desdobramento". Desdobramento é quando você deixa o seu corpo e vai pra outra dimensão. Com ele, eu analisava os clientes que vinham à loja. Por falar em atender, quero muito repetir a experiência: a correria; aquela pesquisa mental que percorria arquivos de filmes e de informações sobre o que quer que fosse, desde "costumes gregos", "história do jazz", "filmes que mostrem castelos", "segunda guerra mundial", "hitler", "filminho pra assistir em família, com crianças de 10 anos", "mela-cueca", "filmes com poetas", "filmes loucos", "sexo, drogas e violência" etc; aquele sorriso disposto na cara e a boa mania do "oi, tudo bem?".
Kra, quanto cliente batuta
eu arranjei! =0D Meeeeeeeow, era o máximo aquele pessoal entrando na loja pra falar comigo, pedir opinião, debater o que tinha visto, gostado ou não. Às sextas-feiras, eu me sentia à pampa naquele meião, correndo de lá pra cá, atendendo até 5 clientes d'uma vez.
Na loja, eu só não ía com a cara da Camila, e vice-versa. Camila é escorpiana, mas não daquele tipo irresistivelmente escorpiano que te guia pelo mistério. Nada. Vaca seria mais o caso, assim, amigavelmente falando. Hihihi.
E, aproveitando aqui a brecha, eu o.o queria falar do Ítalo, o cara que perdeu os dois fil
hos no acidente com o avião da TAM. Eu não sei dizer de quem foi a culpa: se da pista, se da Infraero, da Anac, de sei lá qual outro órgão falho dessa porra, se do governo ou do piloto e, francamente, ó.ò não acho que o certo seja ficar correndo atrás de um culpado. Afinal, que é que você faz com um culpado quando não há mais quem defender, né? O negócio é: se forem identificadas falhas, conserta caraleo! u.ú Negligência é o erro ter como bombar; sacanagem é bombar pela segunda vez. Bom, eu só queria desejar um bom 2008 pra ele, e pra todas as outras famílias que sofreram alguma perda no acidente, mas especialmente pra ele. Um cara tão bacana, pô. u.u'
Então, no meio do ano, a Marihem, uma canceriana que tem formigas na bunda e de quem eu tô sempre ouvindo "Meeeeeeeeel, tenho que te contar! (...)", me apresentou a Tai. Tai é uma pisciana que adora caras com "covinha". Ela também aprecia filmes, especialmente O Poderoso Chefão. E foi por isso que, ao terminar de ler o livro, dei o meu exemplar pra ela. Aliás, sobre o livro... O Poderoso Chefão foi o único, até hoje, que me l.l fez sentir aquela vontade de não terminar, saca? Tipo, eu poderia lê-lo pra =0) sempre.
Tai me manda mensagens e m
e liga do nada para bater papo. E me chama de anti-social como se tivesse toda a razão do mundo. E deve ter, mas isso ainda é muito cedo pr'eu assumir.
Atendendo n
a loja, conheci o Marcelo. Marcelo é geminiano e "entendido". "Entendido" é um dos codinomes pra gay - coisa que eu aprendi com ele. Começamos a sair e deu-se que, fim de semana passado, fomos eu e ele espiar a feirinha do Embu, choveu e o carro dele afogou, por conta da porra dum bueiro entupido. Fiquei ensopada e me senti num filme da Gretchen (!). Brasileiro é foda: se der, caga na rua, e depois reclama que a enchente levou tudo. Pr'o inferno.
Nos damos bem, eu e ele. Além disso, o cara tem carro e inventa os programas mais jóinhas que há: circo, cinema, teatro, tarde no parque, rpg, playstation, bares e baladjenhas... =0D Saímos eu e mais três garotos - incluso ele. Todos "entendidos". Diria que é um tanto estranho, mas me sinto à vontade, então... =0D Quem não fica muito à vontade é Mamãe: "o quê??? Você 'tá sozinha num apartamento com TRÊS homens?!?!?!". E não importa o quanto eu diga que se tratam de "entendidos". Ela sempre acha que eu tô metida com drogas ou n'algum tipo de orgia. É Mãe, né...
Falando em Mãe, minha Mãe o.o sabe da metade do que tenho pra contar. Não escondo mais... Não que tenha saído definitivamente do armário; isso nunca. Mas ela sabe que o meu armário tem as portas escancaradas para o que vier de fora e que eu sou capaz de gostar, sim, de gente l.l do mesmo gênero que eu. O que ela não sabe é que, até o momento pelo menos, não houve mais que 'quedinhas' minhas pelo outro lado. xD
O ruim disso é não poder falar com ela, sabe? Como quando tu tá gostando de alguém e precisa
contar para aquela super amiga, sabe? Ainda não posso fazer isso... Aliás, não sei nem se um dia vou o.o poder fazer. Mas tudo bem, tudo bem. Ela até que tá lidando bem com o fato.
Voltando ao cursinho, Tai me apresentou as meninas bacaninhas: Vi, Tati, Mari, Renata e cia. A
Renata brinca muito com a minha distração... Meldelsdocéu. Houve essa vez em que eu sentei no chão pensando que lá estaria a cadeira e uma outra em que acabei comprando crédito pensando que alguém precisava falar comigo com urgência, quando, na verdade, era ela ligando pra mim sem que eu soubesse... Fêadaputa! Se bem que eu gostava, kra. Era um jeito de me fazer rir e cortar o meu ar de seriedade com a minha própria xD vagareza.
Daí, vieram as experiências ritualísticas. Mamãe já apelou pra tudo: era católica, passou pr'o espiritismo, conheceu os divinistas e agora anda freqüentando terreiro de umbanda, além, lógico, das leituras. E aí, a variedade é enorme: "Osho", "Inteligência Emocional", "Por que Homens Fazem Sexo e Mulheres Fazem Amor?", "Eneagrama - Tipos Psicológicos" e blá, blá, blá. Eu vou a uma sessão de todas essas coisas, acho incrível, mas não retorno. Começo a pensar que há pessoas que precisam de respaldo espiritual e há aquelas que conseguem viver simplesmente admiradas com isso.
Hoje, a minha Mãe começou a falar: "eu tô com quarenta e oito anos de idade e não fiz nem metade daquilo que desejo fazer. Então eu fico repetindo pra mim 'calma Liana, você não pode virar uma mulher frustrada; recalque não faz bem pra ninguém', até que me dei conta de que eu ainda tenho outras vidas pra fazer tudo o que eu quero fazer! Não é legal isso?! Eu não preciso simplesmente acreditar em várias vidas, como também posso tirar proveito disso!!!". Às vezes, eu penso com uma certeza indubitável que haverá sim outras vidas; tantas outras, eu simplesmente paro e não ligo de tudo acabar quando a minha vida aqui acabar. O problema é que, na dúvida, eu i.i'' fico com certo medinho e acabo tentando quitar todas as minhas possíveis dívidas cármicas, sabe? Isso é... Contraditório.
E junto das experiências ritualísticas, veio a necessidade de mudança. O Davi, meu caro
irmãozinho, conseguiu ser assaltado 13 vezes, internado 3 e atropelado - ainda que só uma vez (brincadeiras à u.u parte). Mamãe ficou meio desesperada e resolveu que o quarto dele aqui tá muito pequeno para as suas precisões de homenzinho, que ela quer se afastar de uma pá de gente em quem nós sempre corremos o risco de trombar por esses lados e que o Davi poderia passear mais sossegado em outro canto. Pronto. Assim, ela garantiu toda a base motivacional de que necessitava para nos obrigar a encaixotar tudo e sair por aí à procura de ap. Não vou dizer que não gostei da idéia, porque, uma hora ou outra, a gente sairia daqui - ao menos eu e o Davi XD [nossa, quanto egocentrismo!] -, mas me incomodou a pressa com que ela decidiu fazer isso. No meio do ano, a mudança era coisa pra 2008; depois do 13° assalto ao Davi - ou 4ª tentativa, sei lá (é tanta coisa que a gente até perde a conta!) -, a mudança passou a ser assunto de primeira instância e, cá estamos, a alguns minutos da minha última noite no Monte Kemel. E eu tendo que estudar! :0D
O negócio é que não é nem a mudança definitiva. Não, nós vamos acampar num ap emprestado.
Eu vou dormir com a mesa de jantar no meu quarto, pra se ter uma idéia da zona!!! O bom é que vai ter rede na sacada... E nessa só eu me encosto. Meu papo é exclusividade, babe! Hehe.
Nesse 2007, aprendi muito e me toquei de certas coisas. Levei minha Vó ao cinema; vi o
que é ter grana pra sair e pagar as próprias coisas, inclusive o cursinho a cujas aulas não atendi fielmente, confesso; topei com gente bacana e interessante; vi amores de outras possíveis vidas; dancei muuuuuuuito; chorei um tanto, claro, pra não desandar o enredo melodramático; aprendi a conversar e a achar a superficialidade uma coisa legal e necessária.
Ah, e a minha condição
natural de existência continua sendo a melancolia, o que, longe de ser ruim como eu pensava, é o que é e tá bom. Pela primeira vez tá bom.
Por isso, só dá pra agradecer por 2007. E desejar um bom 2008. Que venha! XD Com muita coisa
legal e muito sossego. "Sossego" é também legenda para a foto da exibicionista ao lado. :0)

sexperienced, bidê ou balde

domingo, 30 de dezembro de 2007

Cute



i make bubbles out of you... ^^''

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Ai, ai...

Kra, eu tinha me esquecido que o ruim de mudar é mudar.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

=0D

O meu canceriano é um saco, tá com treze anos de idade, e todo peludo. O cabelo tá arrepiado, os óculos, estilosos, e ele não faz idéia do quão bonito vai ficar quando maior.
Playstation pra lá e pra cá; não fosse por isso, a gente se daria muito bem. Cancerianos têm ótimo papo; o dele tem ficado mais interessante também. Aquela fase das perguntas, sabe?
"O que é ideologia?";
"Andrea, o que quer dizer field?";
"Andrea, se você acabou de comprar um carro e vem um outro carro e bate no teu carro, o que acontece com a placa do teu carro?";
"Você ía me bater se eu colocasse o cd do High School Musical?";
"Eu sou malvado?".
É o tipo de criatura em quem só eu bato. Só EU tenho licença e desculpa pra tanto. E bato só porque ele é canceriano e, como canceriano, tem a mania de provocar a prima. Provoca quando encosta e pede carinho de 15 em 15 minutos, sabendo que a minha pessoa não é dada a tamanho grude, ou quando começa a falar ininterruptamente para que eu não continue a fazer o que quer que fosse que eu estivesse fazendo, ou ainda quando insiste com o funk e o High School Musical.
À parte isso, é... Tenho que confessar... Ele até que é legal.
Da série conversas de ontem à noite: o telefone toca à meia-noite. Um amigo. Vou até a lavanderia e ele - o priminho - levanta curioso. Depois de uns 15 minutos, volto pra sala, onde está montada a nossa cabana de dormir. Ele pergunta "quem era?"; "um amigo"; "é teu namorado?"; "não"; "ah tá". E volta pra cama.

O Rio de Janeiro continua lindo, isso não há como negar. As luzes, o Pão de Açúcar, o Redentor, o marzão, a Ponte e - meu deus do céu! - as pernas pr'aqueles lados de Copacabana, Arpoador e Ipanema. Imaginei os três: Tom Jobim, Vinícius e Toquinho sentados na praia cantando as menininhas, tentando decidir qual delas ganharia o prêmio de Miss Pernas. Feliz impasse.
O Rio, desde pequena, me admira pela imensidão: é uma segunda São Paulo, só que cheia de pontes, praias e, agora que eu cresci, cantos interessantes. Ficou aquela sensação de quem precisa voltar e passar algum tempo por lá pra descobrir a cidade como se deve.
7h pra ir e o Rio me recebe com sol. 10h pra voltar e a minha terra me recebe com chuva.

metamorfose ambulante, raul seixas

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Sorrisão descarado mode on.

Na primeira e na Cásper! E, kra, a prova da Cásper 'tava ferradinha. Eu passei por causa da redação, sem a menor sombra de dúvidas.
^_____________^

Uff...

Passei na primeira. Hoje, Mamãe não me espera acordada. Amanhã, Rio de Janeiro.
^____^

Pulos, berros e telefonemas ao som de Red Hot Chili Peppers.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Sono

É... Tentei, mas essa força que quer me arrastar até a cama é mais forte que eu. Sucumbo, pois. Bom resto de noite para mim.

Pausa para os intervalos comerciais II.

Segundo banheiro da noite. E dá-lhe água.
Eu tomo tanta água, mas tanta água que, se tivesse talento pra tanto, poderia fazer do meu umbigo um chafariz temático, tipo aqueles que as baleias têm no céu da cabeça.

Um dos planos.



Eu faço planos, sim? Muitos planos... E o melhor e mais plausível até o momento é este: como eu não vou conseguir comprar um carro tão cedo e pretendo largar o transporte público em breve, a solução foi - aliás, será! - uma Honda Biz. Não que eu esteja fazendo propaganda, de maneira alguma. É só que os nomes "motoneta", "vespa" ou "motinho de menina" não me agradam.
Andei dando uma pesquisada em preços camaradas, assim... entupidos de suaves prestações! Por menos de R$250,00, é difícil. Tem ainda o fato d'eu querer uma movida a biocombustível: dou a mínima pra esse tipo de coisa, mas ao menos me eximo de futuras culpas (o negócio é angariar o demônio). Mamãe nem desconfia...
Será vermelha. Bonitinha, não? :0)

tongue, damien rice

Hm.

Para além do que eu não tiver pra dizer de, digamos, substancial, digo que pãozinho na chapa é uma das maiores alegrias de que o homem moderno dispõe no seu dia-a-dia. A sensação equipara-se àquela do miojo degustado com calma depois de um dia imenso e cansativo.
Pequenos prazeres.

Sinceramente, eu prefiro os grandes; pequenos prazeres são legais e podem ser curtidos a um som teu, com chuva, rosas e vinho tinto pra acompanhar, mas eu gosto mesmo é do êxtase. Pequenos prazeres funcionam mais ou menos como ping pong: eles não te consomem. Já o tênis, esse sim. Dá pra dizer que funcionam como o futebol de botão também, mas eu sempre preferi comparar incompletos/imperfeitos ao ping pong.
Um dia, alguém me disse - alguém diferente de mim [sim, porque há vezes em que eu realmente tenho que me lembrar de que foi alguém diferente de mim que me disse alguma coisa] - que a felicidade é feito uma coisa que tá lá em cima, em algum tipo de plano superior que, quando atingível, é praticamente inabalável. Daí eu dei o meu parecer e, bem no meio da conversa, percebi que a felicidade pra mim só é "felicidade" de fato, porque é, literalmente, um êxtase. Um súbito êxtase, como se eu tivesse feito a melhor viagem possível e a mais deslumbrante. E toda vez que eu fico feliz, eu choro. Choro, porque é muito biito. De uma beleza que eu quase não consigo suportar.
Daí nós ficamos lá, comparando felicidades.
E a verdade é que, se eu conseguisse atingir o ápice com todo o pãozinho na chapa, teria simplesmente uma droga pra me engordar, devido às quantidades cada vez maiores das quais precisaria para me sentir não mais feliz e momentaneamente plena, mas apenas... satisfeita.

miss america, something corporate

Comentário pertinente.

Acho o meu pescoço... fofinho.

Pausa para os intervalos comerciais.

Fui ao banheiro.

PS: eu tenho a bexiga solta e tenho que agradecer a deus por isso. 'Brigada.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Uma experiência.

Como eu tô com sono, mas não vou ter muito pra fazer quando o dia chegar, uma vez que não tenho ido ao cursinho e não vou sair por aí distribuindo currículo amanhã [não tô a fim de me vestir bem], ou estudando em outros lugares que não em casa - na companhia da minha geladeira e da minha voz que ressoa pelos cômodos só porque eu preciso saber, em termos um tanto mais complexos e politizados, que o HITLER ERA UM FÊODAPUTA -, vou tentar passar a madrugada rabiscando coisas aqui: ocorrências, recordações, explosões, diários de bordo, besteiras etc. Além do mais, prefiro a noite ao dia e, como tá chovendo, bem, tenho um argumento duplamente convincente.
Tá. 1... 2... 3... Começou.

Música de início: Tiny Dancer, by Ryan Adams. Na real, a música é do Elton. E fica bem melhor com o Elton, mas como a trilha sonora tá sendo Ryan Adams, so...
Livro: algum aqui de resumos de literatura, mas a vontade que eu tinha mesmo era de dar fim à minha decoreba historiográfica...
Na cabeça: queria não mencionar, mas não tem outra... É o vestibular. Já tô meio ansiosa.
Ontem: a palinha de uma palestra sobre Platão, que me interessou demais. Falava sobre a arte de amar e ser verdadeiro. Em mim, só encontro o que dá pra chamar de devoção. Só que ela é mesquinha, angustiante e não explica muito de si, tampouco gosta que perguntem. É... Vai ver que eu ainda não aprendi a amar. O amor me ensinou a mentir, quando não deveria.
Incômodo: a porra da árvore de natal, que a gente ainda não montou. O negócio é que a gente sempre monta a árvore junto: Mamãe, Davi e eu. E eu, sempre apegada a certas tradições familiares, não monto, tampouco deixo montarem sem que estejam os três. Mesmo que um deles, nesse caso a Mãe, fique apenas observando, ou mesmo que os dois reclamem de como eu coloco os enfeites na árvore - e eles sempre reclamam. Não gosto de ver o natal desaparecer.
Aventura: vou pr'o Rio nesse sábado.
To be continued...

Óh!

"Cedendo à meiga pressão, a virgem reclinou-se ao peito do guerreiro, e ficou ali trêmula e palpitante como a tímida perdiz, quando o terno companheiro lhe arrufa com o bico a macia penugem.
O lábio do guerreiro suspirou mais uma vez o doce nome e soluçou, como se chamara outro lábio amante. Iracema sentiu que sua alma se escapava para embeber-se no ósculo ardente.
A fronte reclinara, e a flor do sorriso expandia-se como o nenúfar ao beijo do sol.".

Imaginação fértil a desse cara, né? É tanta emoção. Penas, plumas, gansos, pardais, andorinhas, sóis, pipas, pólem, coca-cola (...) minha alma às vezes é tão pequena.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Competição

Véi, a Mel aposta corrida comigo quando vê que eu tô indo pegar o lugar dela no sofá. Pode?! O.ó

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

One of the songs I'd like to sing when I'm old. :0)



In My Life

There are places I remember all my life,
Though some have changed,
Some forever, not for better,
Some have gone and some remain.

All these places had their moments
With lovers and friends I still can recall.
Some are dead and some are living.
In my life I've loved them all.

But of all these friends and lovers,
There is no one compares with you,
And these mem'ries lost their meaning
When I think of love as something new.

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before,
I know I'll often stop and think about them,
In my life I'll love you more.

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before,
I know I'll often stop and think about them,
In my life I'll love you more,
In my life I'll love you more.

domingo, 2 de dezembro de 2007

(...) porque longe das cercas embandeiradas
que separam quintais
no cume calmo do meu olho que vê
assenta a sombra sonora de um disco voador (...)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A carta que Ana Maria escreveu a Cássio. E que Cássio jamais lerá.

Querido Cássio,

Quando você foi embora, eu entendi as dívidas cármicas e o significado do Natal. Não que eu pudesse, de forma alguma, chorar tanto tempo assim por conta da tua partida. Você me conhecia muito bem pra sentir medo de me magoar... E, em hipótese alguma, me magoaria.
Lembra-se de quando nos conhecemos? Não sei, hoje estou meio "retardatária". Fiquei olhando as nossas fotos de quando pequenos. Sua mãe foi visitar a minha mãe e trouxe você com ela. Naquele dia, eu me aborreci: você não se aproximava de mim e, no entanto, se distraía fácil com tudo. Não precisava dos meus brinquedos, da sua mãe, nem de nada. As suas mãos eram as personagens e você simplesmente se divertia fazendo do nosso sofá uma montanha.
Por algum tempo, devo admitir, o que me aproximava e me arrastava pra longe de ti era um tipo de inveja. Só que isso eu também não preciso admitir, porque você sabe. Eu te contei. Às vezes, acredito realmente que te contei tudo. Talvez esse tenha sido o nosso maior defeito: termos contado tudo um ao outro. Termos tido a liberdade de contar tudo. Não raro, me pergunto quando foi que resolvemos nos dar tanto espaço, mas não obtenho resposta.
Sua mãe pergunta por ti ainda hoje. Ela crê porque crê que você me escreve. E não adianta dizer que nem mesmo eu consigo te encontrar em canto algum - quanto mais receber notícias suas -; ela sempre acha que eu estou mentindo a pedido seu. O que, de certa forma, é bom, porque a conforta.
Por aqui vai tudo bem... O serviço anda a mesma coisa; o bom é que o décimo terceiro está chegando junto com as férias; o Priscilo vai bem, mas creio que ele tá meio necessitado. Esse fim de semana, vou ver como é que faço pra castrar o bichano. Tem andado muito nervosinho, miando de maneira esquista e tals. Mamãe também está ótima.
Ademais, estou saindo com um cara divertido, inteligente, educado e cabelo na cara; bem aquele tipo que eu costumava descrever pra ti nos tempos de colégio. Quem diria que, algum tempo depois, esse passaria a ser o seu tipo também... Enfim, ele promete me fazer esquecer de ti.

Sabe, Cássio, não sei. Você não me deixou saber se eu te afugentei. E isso não me entristece, me deixa é com raiva. De nós dois, você sempre foi o mais reservado, porém não o suficiente pra que eu não pudesse ter noção do que acontecia contigo. Muito pelo contrário, você sempre me deixou saber que eu tinha uma noção clara do que se passava.
Quando eu te confessei, naquele dia, que gostava de você, apesar de todos os pesares, como homem e você vacilou, não conseguiu me encarar no rosto, aí eu soube. Soube que você sentia alguma coisa também, mesmo achando que não podia retribuir em igual moeda. Pelo amor de deus, o que nós tínhamos eu jurava inquebrável. E duas semanas depois daquilo, você partiu. Sem despedida, sem aviso, sem dar satisfação alguma. Sua mãe e eu revistamos o seu quarto atrás de algum escrito, alguma notificaçãozinha idiota sobre algum plano mirabolante que você estivesse compilando, e nada. Nenhum rastro.
Eu não sei se você se apaixonou por alguém, se decidiu abandonar essa cidadezinha pequena e ir ao encontro de algo maior, se arrumou um emprego na Sibéria. São muitos os motivos que levam um menino de 21 anos a sair de casa da noite para o dia.
Há algum tempo – lembra-se? -, você me disse que nós éramos duas sementinhas abandonadas no mesmo vaso, sem crescer muito, com medo da possibilidade de interagir com outras plantinhas, ou mesmo com o sol. Disse que nos arruinaríamos mutuamente por conta desse nosso amor que mais se assemelhava a um compromisso assumido pelo medo do desamparo. Eu te encarei como quem encara um poetinha talentoso. Não levei a sério no momento, e continuamos lá, a dividir o meu travesseiro.
Comecei a dar valor ao que você disse somente algum tempo depois. Porque, a bem da verdade, você sempre foi o meu único e melhor amigo. Contigo, eu me sentia protegida; sentia que as minhas idéias eram sempre bem recebidas, quer fossem ríspidas, imbecis, ofensivas ou bacanas. Não precisava de mais nada, de mais ninguém.
Não sei até que ponto a nossa convivência me prejudicou. Tentei falar sobre isso com a minha mãe, mesmo com outros caras, mas tudo que recebi foi um “ah, então deve ser por isso que os seus relacionamentos amorosos não passam de dois meses...”. Eles ficavam tirando conclusões, apenas. E talvez tivessem razão, mas eu não tive muita paciência para ouvir. Detesto psicodrama barato.
Queria você aqui pra me explicar como isso funciona. Ou então pra ter me dito como é que funcionaria com a gente... É que, agora que você foi, eu tenho sido um pouco mais sozinha. O que não me incomoda, pois às vezes penso que você me preparou pra isso de uma maneira singular: me ensinou que é melhor conviver com quem valha realmente a pena e se sujeitar à solidão na falta, do que correr para o primeiro disposto a servir de companhia, só porque ele próprio precisa de uma.
Se você foi embora porque acreditava que nós éramos mesmo aquelas sementinhas, bem, então eu tenho vontade de te chamar de idiota. E isso pode ser egocentrismo meu pra início de conversa, porque eu bem sei que você tinha grandes planos, assim como eu tenho, mas nunca tive iniciativa de empreendê-los; só que pode também não ser. Deus sabe que você adora se esconder quando algo te aflige. Aliás, deus não sabe de porra nenhuma... Quem sabe sou eu.
E o que eu sei agora não faz grande diferença, afinal você é só uma sombra na sala com quem não posso conversar.

Da sementinha que gostava do nosso vaso,
Ana.

de perto (bang bang)
, paralamas do sucesso

^o^

Há fotos que a gente consegue passar horas olhando. =0D

terça-feira, 27 de novembro de 2007

ôxi

O celular toca.
-- Alô?
-- Alô, Andrea?
-- Gabi?!
-- É, chama o Davi pra mim, por favor?
-- Ele tá meio ocupado. Tratando de negócios com o Ricardo.
-- AAHHHHHHHHHH!!!
-- Eita, calma! Que houve?
-- AHHH! Me diz como você aguenta?!?!
-- Ele?
-- Ééééé! Me diz o que é que eu faço com ele?! Ele tá impossível!!! ¬¬''
(...)
Segue uma conversa estranha pra mim. É como se eu conversasse pela primeira vez com alguém que conhece o Davi. E também foi a primeira vez que eu tive de o.o' dar conselhos a uma... cunhada? Caraleo, véi. Detesto esse nome: "cunhada".

personal jesus, johnny cash

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Da série "pequenos prazeres".

Eu nunca assumi, mas milho verde em conserva - preferencialmente recém saído da geladeira - se equipara à pasta de amendoim servida na colher para o Brad Pitt (vulgo Joe Black), em Encontro Marcado. :0)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Da minha ciência do abraço.

Abraçar é a imprevisibilidade de comunicação entre dois pares de braços. Eles podem ser pares confusos. Pode haver esbofeteação involuntária, ou um encaixe sublime. Pode ser que um dos lados tenha que se sentar, ou o outro subir num banquinho. Podem ser várias coisas ao mesmo tempo, mas não, ninguém pode dizer, jamais, em tempo algum, que não é bom quando na vontade dos dois lados e, por conseqüência, dos dois pares.
Abraço é diferente de beijo. Beijo molha, abraço derrete. Beijo invade, abraço desarma. Beijo machuca, abraço destrói. O caminho pr’o beijo tá no abraço. O caminho pr’o abraço pode estar no beijo, mas geralmente envolve mais coisa.
Há estudos que dizem que o abraço faz bem à saude: o nível de cortisol, o hormônio do stress, cai; são liberadas maiores quantidades de serotonina e dopamina, provocando uma sensação de conforto; a pressão sangüínea diminui e os batimentos cardíacos desaceleram. E não são necessárias grandes pesquisas ou experiências pra provar que isso tudo é verdade.
Abraço não vale quando envolve três braços: um par e outro pela metade. Um braço apenas denuncia estranhamento ou desvontade. E, se a pessoa do par inteiro for um tanto mais atenta, vai ficar ofendida por conta da meia reciprocidade, às vezes completamente ausente. Quando não rola muita intimidade, um abraço e meio desanima. Quando já rola intimidade, um abraço e meio derruba, esfria. Quando ainda rola intimidade por parte de um dos pares, um abraço e meio é feito faca.
Vulgarizar abraço é muito fácil. Todo mundo precisa de certa dose de cuidado; porém, a impressão que dá é que, com o passar dos tempos, todo mundo precisa de doses maiores. Anda difícil separar o medo do desapego (próprio e do outro) da vontade genuína. O calor humano parece uma constante necessária, quase aterrorizante. Então todo mundo se abraça e faz propaganda de abraço grátis, como se professasse uma salvação qualquer. Entretanto, esse tipo de atitude a gente não julga...
O abraço pode ser considerado um argumento pró monogamia. Não sei se a Igreja Católica se baseou no abraço pra estabelecer que um homem pertence a uma mulher e vice-versa. Prefiro pensar que é uma hipótese. Entende o esquema? A gente tem um par de braços... Usá-lo com duas outras pessoas, significa que serão dois abraços pela metade. Usá-lo com três outras pessoas, é dizer que alguém vai ter que se contentar com uma perna. Bem, é só uma idéia. Uma vaga idéia.
Abraço envolve tipos infinitos. Tem o impessoal, o apaixonado, o grato, o muitíssimo grato, o espontâneo, o inesperado, o envergonhado, o de despedida (...). Só não tem abraço roubado, porque a gente não tem como roubar isso... Beijo sim, mas porque beijo roubado é um dos ápices do romantismo - e quando é romance, a gente deixa.
O abraço possui intensidades. Tem o normal e o forte. Fraco não existe. Normal é quando é normal. Forte é quando é apertado e passa, acima de inúmeras sensações, aquele desejo de dizer que eu não queria ir embora, ou não queria que você fosse.
Abraço envolve dois papéis: o do abraçado e o do que abraça. Ainda não fiz, nem vi abraço em que a composição tivesse um papel apenas. Penso que se deve à lei da ação e reação... A ausência de dois papéis provoca inércia e o abraço não ocorre. Não é que abraços dependam de necessidades; não, eles só precisam de motivos. Às vezes, a ausência de motivos se torna um motivo pra abraçar. E, da mesma maneira, ainda há os dois papéis envolvidos...
Abraçar é falar sobre si de boca fechada e sem muitos olhares. Da mesma maneira que tu pode dizer tudo, o outro pode sacar. Segurança, medo, alegria, tristeza, desespero, saudade, raiva, confusão inclusive... Tudo.

Quando vem de mim, o abraço normal deixa claro que eu tô envolvida. O forte, deixa claro que eu tô ferrada. Sabe... A coisa que mais dói na saudade é o abraço. Por que será, hein?

maybe i'm amazed, paul mccartney

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

:0} expectations

Bem, bem, bem, bem, bem... O Davi vai prestar FAU e Mackenzie. Todo mundo tá achando - com uma fé, assim, terrível *-* - que ele passa no Mackenzie, mesmo não estudando. Ele quer Design. Andei falando com uns amigos, e eles me disseram que em Design tá cheio de gay. O Davi não sabe disso ainda.
Anyway, hoje eu começo a novena. Liguei ontem no desespero, à 1h da manhã, pra minha Tia pra perguntar a que santo eu me apego. Ela disse que era melhor eu me apegar a =0D todos. Mas deu que vou me apegar a Santo Expedito, a Santa Rita, de quem minha Vó é devota, e a São Judas Tadeu, pelo meu Vô.
Penso que isso é ser sacana com os céus, uma vez que eu só busco esse tipo de ajuda quando a situação tá a ponto de bala aqui na Terra. Mas, se der certo, garanto que cumpro a minha promessa.

sway, michael blublé

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Quem dá a resposta?

Romildo adentrou a sala. Lá, havia três portas. Três portas e uma secretária, com cara de inteligente, sentada atrás de um balcão de mármore à direita.
-- O chefe?
-- Escolha uma das portas e prossiga pelas salas subseqüentes. - disse ela, em tom sério, mas com uma carinha simpática.
Romildo não entendeu direito o sentido daquilo. Mas tudo bem, tudo bem... Afinal, as regras não eram dele.
Ele parou diante das três portas. A primeira dizia "o infinito"; a segunda dizia "a dúvida" e a terceira, por sua vez, não tinha nome algum. Pensou que a porta da dúvida estava fora de cogitação; não conhecia certezas, mas também não gostava de dúvidas.
-- O senhor não tem muito tempo para decidir. Eu preciso chamar os outros.
-- Ah, sim, sim.
Optou pela porta sem nome. Caiu numa sala escura, com um feixe de luz pairando sobre uma cadeira de madeira. Pensou "é, acho que é só esperar, né?". E esperou. Esperou. Esperou pacientemente durante 40 minutos. Nada. Decidiu voltar e dizer à secretária que havia cometido um engano, que talvez aquela não fosse a porta; que o chefe deveria estar em uma das duas outras salas.
Quando abriu a porta pela qual havia entrado, caiu não naquela primeira sala, mas no que parecia ser uma garagem. Havia lá dois carros. Havia também algumas ferramentas espalhadas, duas bicicletas a um canto e uma bola de futebol na qual Romildo tropeçou. Assim que levantou, viu uma menininha passar e correr em direção à bola. Ele teve medo por um instante, mas percebeu que ela não o via. Ficou doido de vontade de ver se ela, além de não vê-lo, conseguia atravessá-lo, mas achou que seria uma "forçação" de barra um tanto quanto desnecessária. Por isso tentou ele próprio atravessar as paredes. CATAPLOFT! "Mas que saco!". E calou-se de supetão, pois não sabia se ela podia ouvi-lo. Só que não, também não o escutava.
Ela ficara segurando a bola durante alguns instantes, e ele não entendeu. Ficou espiando e percebeu que ela começava a chorar, encolhida. De dentro da casa, vinha um som de vozes nervosas; não dava pra entender o que diziam, mas não ficava difícil saber que se tratava duma briga. Romildo atentou para a menina, que encolhia mais, pondo-se ao lado das bicicletas. Foi quando uma das vozes ficou realmente alta, como se estivesse vindo de encontro a ele: "seu babaca! A Mimi vem comigo!".
A menina levantou a cabeça, ainda com os olhos turvos, e viu a mãe aproximar-se e pegá-la no colo no impulso. "E o papai, e o papai?!", ela perguntava, mas a mãe se limitava a responder "ele não vem com a gente, ele não vem!". Romildo observava aquilo atônito. Ouviu o pai berrar de algum dos cômodos, e resolveu entrar pra ver por que não vinha. A casa era espaçosa: sala grande, sofá de quatro lugares, uma cozinha de azulejos verdes e móveis mais antigos. Mas, como não visse ninguém, decidiu invadir mais. Em um dos quartos, finalmente, viu um homem numa cadeira de rodas, chorando.

Edileuza entrou na sala. Viu lá as três portas e a secretária, toda toda, parecia que ía pr'um baile funk. Pensou que aquilo ali não devia ser lugar pra tanta frescura e que "o chefe" comia ela toda a noite, de sobremesa.
-- Dá licença, eu queria falar co' chefe.
-- Escolhe uma das portas ali. Ah, e, por favor, sem chiclete, tá? - respondeu a secretária, com um sorriso sarcástico.
Sem muita paciência, escolheu a porta do nome bonito: "o infinito" e deu no que parecia ser um banheiro de boate, com espelhos manchados. "Aquela vaca deve tá rindo agora; ha-ha-ha-ha, quem foi que entrou no banheiro?! Ah, mas isso fica assim não!". E abriu a porta, esperando encontrar a secretária se matando de rir. Porém acabou num quarto de motel. Na beirada da cama, tinha uma mulher semi nua, acendendo um cigarro. Do lado, recostado, um homem uns 10 anos mais velho contando notas na carteira. Ele atirou as notas ao lado dela, na cama, e acariciou sua carne morena uma última vez. "Bom, querido, 'cê tem meu celular", disse ela. "Da próxima vez, quero te levar pra jantar, Silvana.".
Edileuza seguiu Silvana. Não ía ficar no quarto com aquele porco. Logo reparou que Silvana não podia vê-la. "Tu não tá com a cara boa." - comentou Edileuza, em vão. Silvana não ouvia não. "Deve ser alguma pegadinha isso aqui (...) Esse cigarro tá te deixando chupada... Sabe, eu também fumava bastante. Mas dei uma segurada; o cunhado de uma amiga minha morreu por causa que fumava muito. (...) Então tu é puta, né? É, vai entender, essa vida não é fácil não. Mulher é bicho forte, é sempre dura na queda. (...) Mas afinal 'cê tá com uma cara xoxa. 'Margura, parece 'margura que não acaba mais.".

Edileuza falava e seguia Silvana. Silvana tava indo pr'o ponto; alguma esquina onde tinham mais duas colegas. Silvana jogou o cigarro fora e chegou rebolando junto dum carro preto que se aproximava. O esquema era dois pra uma. Edileuza ficou olhando de longe, enquanto alertava "cuidado! Olha lá! Esses aí não tão com cara tão boa! Quando é mais de um, esse ar de esperto, desconfia! Silvana!"; percebeu que Silvana não tava muito em si quando topou, e resolveu ir com ela. Entrou no carro, mas era como se não estivesse lá.
O carro seguiu para um motel de quinta. No quarto, Edileuza, como bem tinha imaginado, viu que os dois tinham armado pra cima de Silvana. Usaram clorofórmio; Edileuza gritava, empurrava os garotos, chutava, mas nada pegava neles. Ela gritava "isso aqui é alguma brincadeira?! É alguma brincadeira?!". Até que, terminado o negócio, eles foram embora e deixaram Silvana machucada, desacordada no quarto. Edileuza não teve muito que fazer, senão ficar por perto.
Sussurrava pra ver se ela despertava, mas nada. Teria que esperar. Esperou. Esperou. Esperou pacientemente durante uns 35 minutos, até que Silvana levantou. Tudo rodava, seu lábio tinha gosto de sangue e seu olho direito não abria certo. A cabeça latejava; por entre as coxas dava pra sentir o molhado repugnante e ela sentia as pernas doídas pra fora da cama.
Levantou aos poucos, com raiva, toda zonza. Tinha vontade de chorar, mas não conseguia. Onde é que estava a porra do cigarro? Não, não. Não era hora pra fumar. Edileuza acompanhava a mulher com medo; queria dizer alguma coisa. Silvana caminhou lentamente para a janela. Era uma janela grande, daquelas mais antigas, mas espaçosa o suficiente para fazer o que tinha que fazer. Edileuza notou aquele olhar cego de Silvana; Silvana abrira a janela bem aberta e, com dificuldade, punha perna depois de perna pra sentar no peitoril. Não precisava de muita coragem. Edileuza começou a falar assustada "não faz isso não mulher! Faz isso não! Pára!!! PÁRA!!! Silvana!!!" - e Silvana olhou pra trás como quem ouviu.

Dudu desceu as escadas correndo, não quis esperar o elevador. Tinha as flores nas mãos, o perdão ensaiado. Marília tinha engravidado e ele ficara meio puto. Coisa não planejada; os dois empregados, porém no início da carreira ainda. Ela nem bem terminara a faculdade.
Ah, tudo bem, isso se ajeita, ele dizia. Estava com um cargo promissor. Se destacava nos cursos, cuidava do social, tinha tudo para montar um bom futuro e conseguir prover pr'um filho todo conforto possível. Mas, no momento... A coisa toda ameaçava desequilibrar.
Marília e ele haviam se conhecido numa festa, há uns três anos. Amigos em comum, baladinhas aqui e ali, conversas à toa, conversas mais intimistas; um dia a coisa rolou. E, ao contrário do que se pensava, eles até que estavam se aturando bem. Tinham planos, mais parecidos com idéias, é certo, mas ainda assim maquinavam morar juntos: acordar com os cabelos de um na cara do outro; ver quem atingiria o ápice do mau humor com as manias alheias, essas coisas de casal que se conhece, se adora, contudo não se atura por muito tempo quando colado.
"-- Sabe Marília, a verdade é que eu não planejei a minha vida ao teu lado. O que a gente vai fazer com um filho?!". Eram palavras duras; ele bem sabia que um punhado de flores não resolveria o problema. Ademais, arrependido ou não, ele dizia a verdade.
Atravessara o lobby com pressa. O paletó numa mão, as flores na outra. Não queria ter tempo pra pensar.

Corria muito, como se aquilo pudesse aliviar um pouco a ansiedade. Até esbarrar numa velhinha que lhe disse, após ouvir os insinceros pedidos de desculpas, "cuidado, garoto, desse jeito louco 'cê ainda é atropelado". Ele deu ouvidos e cessou a correria; caminhava agora, ironicamente pensando que tão logo fora-lhe dada a notícia de que seria pai, tão mais cedo ele corria para a morte sem poder. É... O Dudu já estava preso.
Foi quando ele resolveu sentar num dos bancos de uma praça, pra pensar direito. Encostado a um dos cantos do banco, havia esse cadeirante fumando. Ele fumava a intermináveis tragadas e tinha a cara vazia. Do outro lado, sentada, estava Silvana vestindo roupas insinuantes.
"Nada melhor do que meditar e encontrar a paz interior dividindo um banco com um aleijado e uma puta." - pensara. A verdade é que Dudu era um idiota e sabia disso. Tanto sabia que fazia de propósito, pelo prazer de provocar - aos outros e a si próprio.
-- Eu acho muito desumano compartilhar banco de praça com outras pessoas, sem saber o nome delas. Meu nome é Eduardo. E o seu, senhorita?
-- Edileuza.
-- Hm, Edileuza. E a senhorita trabalha em quê?
-- Por um acaso isso é problema seu?
-- Digamos que pode ser do meu interesse...
Ela simplesmente levantou e foi embora. Havia marcado com um cliente das antigas. Só que ainda era cedo. Mas não fazia mal esperar em outro lugar.
-- E o senhor, como se chama?
-- Romildo.
-- Faz o quê?
-- Faço porra nenhuma.
-- Soa produtivo.
-- Muito. Já ouviu falar em ócio produtivo de alto nível?
-- Não mesmo.
-- Pois é. Pratico há 3 anos, desde que me instalaram nessa cadeira.
-- Ao menos tá vivo.
-- À merda.
Romildo também foi embora e Dudu pôde desfrutar da solidão. Ele não pensou muito, apenas deixou as flores no banco e foi embora após uns 30 minutos. Caminhava normalmente, sem ligar pra muita coisa, até perceber uma placa, em frente a um estabelecimento parecido com uma loja, só que de vitrines vazias e porta preta, que dizia "quer a resposta?". Ele resolveu entrar.
Chegou no único atendente que havia, um menino de uns 17 anos trajando uma bermuda branca, e falou "eu quero a resposta".
-- Pra isso tem que falar com o chefe. Tá vendo aquele corredor? Segue por ele e vira na segunda à direita, depois na primeira à esquerda e então na segunda à direita novamente. É uma sala de espera; vão te chamar.

Ele foi sem grandes pretensões. Chamaram até que rápido. Quando adentrou a sala, viu a secretária à direita. E ela tinha um nariz de palhaço, daqueles vermelhos e bem redondos. Ele ignorou o fato e tentou ater-se ao que realmente interessava.
-- Por favor, eu queria falar com o chefe.
-- Escolha uma das três portas adiante.
-- Tá de palhaçada comigo, né?
Ela não precisava responder à pergunta.
Ele escolheu a porta da dúvida, afinal era por isso que estava ali. Além disso, achava o infinito uma coisa cretina e uma porta sem nome, algo provavelmente desinteressante.
Caiu numa calçada que dava de frente para o banco onde estivera. E, qual não fora sua tão grande surpresa, lá estava ele ao lado do aleijado e da puta. Vira toda a cena, desde o momento em que sentara, as conversas desagradáveis até aquele impulso que o fez levantar pronto pra tomar seu rumo sem as flores. Neste exato momento, Dudu, da calçada, começou a gritar "não faz isso, seu merda! Pega as flores agora! Pega as flores!!! É a tua menina e o teu filho!!! São teus! Pega as flores, AGORA!!!".

Edileuza deixou o quarto. Entrou no elevador; encarou o espelho manchado: "tu não tá com a cara boa. Deve ser alguma pegadinha isso aqui (...) Esse cigarro tá te deixando chupada... Precisa dar uma segurada; o cunhado da Roberta morreu por causa que fumava muito. (...) Então é isso que tu vai ser pra vida toda, né? Puta? Essa vida não é fácil não. Como é que eu fui chegar nisso? 'Cê não pode mais. (...) Mulher é bicho forte, é sempre dura na queda. (...) Mas afinal 'cê tá com uma cara xoxa. Margura, parece margura que não acaba mais...".
Edileuza seguia pr'o ponto; pensava milhares de coisas. Imaginava uma vida diferente daquela; precisava parar com aquilo. Foi para a esquina onde tinham mais duas colegas. Edileuza assumiu Silvana, jogou o cigarro fora e chegou rebolando junto dum carro preto que se aproximava. O esquema era dois pra uma. Silvana se exibia, enquanto observava os garotos e algo a alertava "cuidado! Olha lá! Esses aí não tão com cara tão boa! Quando é mais de um, esse ar de esperto, desconfia! (...)". Apesar de tudo, Silvana estava prestes a concordar quando olhou pra trás pensando ter ouvido alguém chamar-lhe "(...) PÁRA!!! Silvana!!!" e foi então que, de seus lábios tristes, surgiu a resposta para o convite indecente:
-- Hoje não, rapazes. Hoje não.
Uma das meninas virou pra ela e disse:
-- Edileuza, tá lôca?!
-- Eu que não. Quando alguma coisa dentro da cabeça grita mais que o normal, tu tem que parar pra ouvir. E, se eu fosse você, também não dava trela pra esses caras aí não.

Romildo adorava o mar: era um biólogo especializado em vida marinha. Um dia, porém, decidiu mergulhar próximo às pedras, na praia em que ele, a esposa, a filha e a família costumavam passar as férias. O mar estava agitado e ele encontrava-se já um pouco alto, por conta da cerveja; foi quando uma onda forte o jogou contra as pedras e acabou fraturando sua medula. Essas mesmas ondas, acabaram por levá-lo até a praia, desacordado. Desde então, Romildo ficara enfiado numa cadeira de rodas.
A mulher e ele não se davam muito bem, mas levavam o casamento adiante por causa da Mimi. Só que depois do acidente, o que já não era muito suportável, passou à qualidade de intrinsecamente detestável. Romildo era o típico cara mais parado; levava murro de graça, sem se importar muito. A única coisa que o movia de verdade era a filha. A filha e o mar, só que o mar já não era uma constante em sua vida. A mulher lhe torrava a paciência, especialmente agora que ele passava o tempo em casa, desmotivado e inútil. Ele até tentou se bastar como coordenador de pesquisas e tal, mas não aguentou. Sentia muita falta do mar e o seu serviço começou a decair. Tanto decaiu, que Romildo foi despedido. Essa falta de responsabilidade perante a família que o marido também tinha o dever de sustentar e, principalmente, a autopiedade dele irritavam-na profundamente. E ele via isso. Tanto via que, conforme o tempo foi passando, já não lhe era suficiente ficar em casa cuidando da filha, pois aquela sensação de inutilidade e comodismo, frente o olhar reprovador da mulher, começava a incomodá-lo.
A solução imediata que ele achou pra isso foi a ausência. Passava o dia fora; nem cuidar da filha ele fazia mais. Procurava emprego aqui e ali, pra fazer coisas das quais ele nem entendia. Era só pra dizer que procurava e ouvir menos da mulher.
Veio então o dia em que ele foi ao cinema. Passava um filme sobre teatro, com a Denise Fraga e o Luís Melo. No filme, todo o dia a Denise Fraga cumprimentava esse velho sentado numa cadeira com um radinho na mão, na entrada do teatro, e ele respondia "obrigado". Uma merda de filme, enfim.
Foi então que, naquela noite, em casa, Romildo decidiu que queria ficar sozinho de vez. Ele e a mulher brigaram; ela saiu de casa com a Mimi. Um Romildo surgiu à porta do que reconheceu ser seu próprio quarto; flagrou a si mesmo como aquele homem na cadeira de rodas chorando, e disse "é a minha vida e eu preciso pegá-la...".
Olhou em volta, agora enxugando as lágrimas. Sentia-se estranhamente leve.

Dudu levantou bruscamente. Estava suado, respirando rápido; a seu lado, Marília, assustada, perguntava "que foi?! Tá tudo bem, Du?". Na cômoda, as flores que ele trouxera para ela, ao lado do seu paletó abarrotado por causa da corrida.
-- Tá... Tá sim. Eu te amo, Ma.
Ela o abraçou bem forte e os dois voltaram a deitar. Marília pegou no sono rápido; Dudu ficou com Ma nos braços, porém desperto, observando cada canto do pequeno quarto com relativa calma.


Dudu, Romildo e Edileuza jamais se encontraram. A dúvida, o infinito e a porta sem nome são a mesma coisa. O chefe é o cara das respostas fáceis, a quem todo mundo procura, ou por quem todo mundo anseia de vez em sempre. Se o Dudu, o Romildo e a Edileuza o encontraram, eu prefiro deixar a encargo do leitor decidir.

É a loucura, o destino, deus, o diabo, um pressentimento, um anjo, um presságio, a sorte, o chefe? A gente nunca sabe... A gente só sabe que, em questão de 5 minutos, o mundo já girou um tantão assim ó.

vivir sin aire, maná

música para os ouvidos

Quando eu tô bem, bem, beeeem triste, eu gosto de ouvir um samba ou Mamonas pra animar. Quando eu tô com muita raiva, escuto Nirvana. Quando tô ansiosa, escuto Sum 41. Quando chove, escuto Jamie Cullum, Dave Brubeck, Nina Simone, mais cool jazz. Quando quero dançar brincando de desfile, roda Shakira e Pink. Quando não tô muito nada, nem muito tudo, escuto Damien Rice sem risco de enjoar.
Quando é fim de semana à tarde, frio, escuto o 4 do Los Hermanos ou Norah Jones. Quando é fim de semana à tarde, quente, escuto o que tiver no meu pc de bom. E quando faz sol de manhã, é música de praia: Jack Johnson.
Quando é na semana, de manhã eu levo música no iPod que todo mundo no cursinho curta ouvir - menos funk carioca. Funk carioca eu não levo e não canto em lugar algum. Só danço. Quando é na semana, de tarde, eu rodo o que tiver no pc e, quando os exercícios de física e história não cooperam
(é incrível como a gente sabe a matéria, mas erra um monte!), dou preferência às cordas. Vai B. B. King, Dashboard Confessional, Ben Harper, Django Reinhardt, Rachel Portman, Yann Tiersen, Rita Lee, Ryan Adams, Bebel Gilberto, Toquinho, Enya, Luís Melodia etc. À noite, que é quando dá pra pensar, mais Damien Rice, Oasis, Stereophonics, Skank, Ocean Colour Scene, Legião, Coldplay, Bidê Ou Balde e segue...
Quando quero lembrar de pessoas e até de mim mesma, escuto Avril Lavigne. Quando quero pensar besteira, escuto um cd que eu gravei que se chama "pra pensar em sexo"; na real, real mesmo, era pra se chamar "código 69: pra trepar", mas Mamãe achou o título meio inconveniente. Gostou, mas ainda assim achou meio inconveniente, então a gente teve que fazer uma adaptação.

E quando eu crescer, quero ser DJ nas festas dos nossos pais.

minor swing, django reinhardt [é a física... tudo culpa da física u.ú]

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

os efeitos da radiação de cozinha.

Tava pensando aqui comigo... Se eu deixar a salsicha ferver no microondas, ela pode sofrer mutação? O.o' Hm.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

da liberdade ou sobre como ele começara a esperar

a liberdade precisa de muitos significados para que nos sintamos senhores de nós mesmos. ele bem o sabia quando a olhou naquele 28 de novembro e se apaixonou... até então, era um homem sem álibis quaisquer, sem grandes dúvidas e opiniões. dono de uma pequena mercearia situada numa dessas ruelas movimentadas de Pinheiros, levava uma vida pacata, de pretensões modestas. era um acomodado e desfrutava da independência que o negócio lhe proporcionava.
foi a vez de alguma coisa o incomodar. como quando tudo na vida está ajeitado ao aceitável e cai o destino, despenca a sorte, gira o mundo, só porque deus não quer ficar entediado com as vidas que distribuiu.
manhã ensolarada; o único empregado chegara atrasado por causa de mulher, mas ele não fez muito caso, afinal Maneco [o ajudante] era um cara con
fiável, disposto, que entendia do serviço e o divertia com suas lorotas. passaram a manhã conferindo estoque, endireitando a loja para os primeiros fregueses do que seria uma quinta-feira de pouco movimento.
até que ela entrou. e, apesar de ser uma freguesa dessas que aparecem uma vez a cada duas semanas, por aí, desta vez ela tinha algo que a fazia mais bonita. quem dera fosse o vestido amarelo, que, longe de enfatizar as formas, conferia-lhe um ar um tanto mais infantil, ou aquela parte do cabelo que caía-lhe bem no rosto gritando sensualidade, ou ainda o jeito como segurava a sacola das compras feitas denunciando cansaço. quem dera fossem estes detalhes tingidos com perfeição pelo que se chama cotidiano. ele se admirou foi da leveza dos passos, aquele jeito alegre de andar com os pensamentos em outros lugares; daqueles lábios entreabertos num sorriso disfarçado e constante; dos tantos gestos, barulhinhos, confidências feitas em pensamento com aquele ar de quem ama o segredo de saber-se feliz, pois os outros, ah, os outros pouco importavam naquela hora [os outros pouco importam nessas horas]. ele notou o mistério e a facilidade com que este se dissiparia caso alguém perguntasse quais seriam os motivos daquela linda meninice, toda displicente. e isso o encantou.
ele, porém, não disse, não perguntou nada. tampouco o fez nas outras vezes em que ela passou por lá. continha-se. continha-se certo de que a beleza que enxergava, a pureza com que a admirava e a certeza com que um dia, se assim continuasse, viria a amá-la fariam perdurar esta sensação de encanto
por muito tempo ainda.

eis que chega o dia em que a moça não vai só à mercearia. e o Maneco, como de costume, atende a senhoria que se exibe ao lado de seu motivo. ele engole em seco e repara no sorriso aberto, nos gestos, barulhinhos, nas confidências a mais, todas entregues. agora não há mais mistério e a felicidade dela já não é segredo. ele devia saber: pessoas felizes não conseguem fazer segredo de sua felicidade, ao menos não por muito tempo. elas precisam deixar saber que estão felizes, como se fosse
m, por algum motivo, superiores, diferentes, quando não o são. estão apenas alegres e sentem-se contagiantes.
pairou sobre ele um sentimentozinho pequeno, podre de caráter, não tão baixo quanto a inveja, mas no caminho para tal. ficou de comparações com aquele que há pouco esteve ali, com ela. o que ele tem de mais? algum dinheiro, um carro bom, palavras bonitas e vaidades? ah, é bem pouco perto do que eu vi. é bem pouco perto do que eu vi!


no dia seguinte, ele andava inquieto de lá para cá. não tinha dormido à noite e não dizia a Maneco o que se passava. passada uma semana, a inquietação havia desaparecido, mas este incômodo pesava-lhe nos momentos de pouco movimento. ele imaginava coisas; imaginava agora a outra beleza, aquela que a fazia mulher, na carne e no espírito; não mais com a sensualidade inocente de outrora, mas com a de quem sabe jogar. foram três semanas inteiras e ela não voltara à mercearia. ele decidiu contar ao Maneco.
-- Pois eu acho que pr'o patrão foi muito cômodo.

-- 'Cê não entende.
-- Entendo que o que o senhor sente agora é um ciúme inútil.

-- Não é ciúme! Eu não sentia ciúme antes, por que ía sentir agora?!
-- Porque o senhor foi roubado! E o senhor viu o ladrão! E o ladrão tinha a mão na cintura da moça, sussurrava no ouvido dela e isso te deixou louco.
-- 'Cê não entende porra nenhuma.

-- Entendo o que é querer alguma coisa e entendo dos meios pra conseguir. Pra mim, este jogo de distância e "ter-em-que-pensar" não funciona. É babaquice pra desocupado.
-- Oras, vai à merda.
Maneco jamais entenderia. Maneco era daquele tipo de gente imediatista, pra quem tudo é passível de solução e métodos. Ele não. Não queria correr o risco de ter sido iludido, mas também, talvez devido às circunstâncias, tampouco queria que ela passasse mais uma vez sem que fossem trocadas palavras entre eles, sem que se desse margem a outros tipos de conhecimentos, acordos e modos.
Maneco e ele nunca mais tocaram no assunto. E a
gora ele esperava pacientemente pela próxima chance. uma semana depois, a chance apareceu e ele se mostrou cavalheiríssimo, cheio dos bem falares perto dela.
-- A moça anda muito bonita ultimamente, com um sorriso alegre, cheia de vida.
-- Ah, muito obrigada - disse ruborizando.
-- Não se envergonhe não. Se todo mundo fosse assim sempre, ou pelo menos quase sempre, garanto que o dia-a-dia desse povo seria muito mais agradável.
-- Concordo com o senhor.
-- Mas, se me permite a pergunta, como é que a gente faz pra ficar assim que nem a senhorinha?

-- A gente, eu pelo menos, não faz nada. É que eu fui encontrada e acabei por me encontrar.
-- Hm, fala bonito a moça, mas com muito mistério...
-- Estou enamorada... De um que é lindo por dentro e por fora, e me completa como alma alguma jamais conseguiu.

-- Hm. - o rosto dele tomou um sorriso apagado.
ordenados os pedidos, ela foi embora e ele não se conformou com tamanha impossibilidade. deu meia hora, saiu apressado, sentia que o ar dentro da mercearia estava viciado; não avisou o Maneco, mas pouco importava, pois o Maneco sempre sabia o que fazer.
toda aquela pureza sumira, a beleza que agora enxergava er
a a do desejo insatisfeito, daquela meia-fúria de quem olha e não pode tocar; por todas as canções sussurradas que jamais pronunciaria. era insensato demais e ele o sabia... ela simplesmente passara um dia e, agora, lá estava ele com ares de desconcertado, quase imensamente triste. perguntava-se por que as pessoas não podiam parecer belas por outros motivos que não outras pessoas. e não encontrava resposta, pois não conhecia a sensação... no entanto, a observava. a observava incessantemente nos outros! por um momento, pensou que sentisse inveja, mas não, não era. o que tinha era apenas uma vontade que há muito não lhe fisgava o peito; uma vontade de ficar alegre, conversar, falar do seu vazio para alguém que o preenchesse. mesmo que isso significasse abandonar parte da beleza, sufocar o que conservava-se puro, tudo para conquistar a liberdade de amar de outro modo.
Maneco tinha certa razão: ele bem era um acomodado. mas acomodou-se, pois nunca teve a q
ue aspirar com paixão. era uma dessas pessoas que se tornavam inatingíveis, por não terem a que almejar, a quem a vida veio como qualquer outra, porém com meios de estabilidade... não que fosse um conformado; vivia simplesmente, do jeito que desse, do jeito que viesse e, no momento, as coisas vinham bem: seu próprio negócio, um dinheirinho extra ao final do mês, freguesia constante, sem nenhuma queixa quase. a pelota das quartas-feiras, as conversas com o Maneco, as discussões no bar, a solidão, sua melhor companheira. uma companheira que só o incomodava nos dias frios, quando fechava a mercearia sabendo que o Maneco haveria de se arranjar nos abraços de alguém e ele voltaria pra casa e passaria a noite lendo, ouvindo o velho rádio, tomando uma caneca de leite quente.
as mulheres pra ele constituíam um prazer carnal, há muito substituído pelo futebol e pela cerveja. quando mais jovem, ele até se aventurava mais nesse campo. gostava do toque da pele macia de uma boa mulher; gostava do tom da voz, de como os lábios se preparavam para o beijo, de como os abraços o envolviam com segurança e medo e de como faziam da cama um lugar quentinho; eram ternas, diferentes, fortes de tantas maneiras.

tivera três mulheres com quem os casos foram - e poderiam ter sido mais - duradouros. todos eles, entretanto, conheceram um mesmo fim: ele que não as queria enganar também não podia levar adiante necessidades às quais não podia atender, pelo menos não de coração. às vezes as mulheres não dão espaço para considerações e querem ouvir logo um eu te amo, eu te quero, para que possam seguir em paz, sabendo que alguém lhes pertence tanto quanto elas desejam se entregar. não é uma arma, é mais um mecanismo de defesa, porque mulher alguma apresenta meias-palavras, apesar de dizer que sim.
muitos poderiam pensar que a vida dele era pequena. pequena de recursos, de envolvimentos, de sonhos, desejos, sentimentos. mas, no mais, era uma vida como qualquer outra. quem acha a própria vida grande, não pára pra aproveitar o que tem; quem considera a própria vida pequena, não pára pra admirar o que tem; e quem não acha nada da própria vida, é... sei não.
quando deu por si, seus passos o haviam conduzido po
r toda a Rebouças. decidiu continuar caminhando pra onde quer que fosse, e acabou por descer a Consolação. há tanto tempo não via aquele canto da cidade... quando moço, costumava sair mais, pra descobrir os arredores e lá longe. (...)
foi quando a viu, sentada com aquele, numa dessas mesinhas que ficam na calçada, tomand
o qualquer coisa naquele Bar Brahma. sentiu a raiva subir, uma raiva controlável, que mais puxava para a tristeza do que para algum tipo de violência, e resolveu aquietar-se encostado a um poste d'outro lado da rua. observava como agiam os dois, como os sorrisos denotavam cumplicidade e as mãos dela entre as dele constituíam um quadro bonito de se ver; imaginava que o quadro ficaria mais bonito se fossem as suas mãos ali... contudo, de repente, bateu uma sensação injusta de que aquilo não lhe pertencia e que, se fosse ele lá, o que agora soava como novidade, como uma pontuação desnecessária, um nó na vida, não passaria de... um dia após o outro, após o outro, após o outro... teve vergonha de si por um minuto ao torná-lo [o cotidiano] tão insosso. então parou: pensou que aquilo era uma besteira de se pensar, porque até pra ele algumas coisas tinham de ser palpáveis. e talvez ela fosse uma delas, ao menos agora que a roubavam, como diria o Maneco.
foi aí que o casal levantou e saiu. ele resolveu segui-los durante algum tempo, só pra ver como fazia. [amar, não seguir.] passeavam rumo a lugar nenhum, assim de brincadeira, e brincavam: contavam piadas, se empurravam, silenciavam, se abraçavam, discutiam... ele admirava o quadro, olhava pra ela, sentia-se incapaz, entristecia, gesticulava algumas idéias incompletas. então os dois à frente avistaram um banco e sentaram a reparar nos transeuntes. ele, ao observar aquela fotografia, pôs-se a caminhar de volta e, meio desolado, quis ter algo com que se consolar. começou a cantar baixinho:



fez-se mar, senhora, o meu penar
demora não, demora não
vai ver o acaso entregou alguém pra lhe dizer
o que qualquer dirá

parece que o amor chegou aí
parece que o amor chegou aí
eu não estava lá, mas eu vi
eu não estava lá, mas eu vi

(...)

-- Mas onde é que o senhor foi?!
-- Por quê? Não conseguiu dar conta?

-- Dar conta eu sempre dou, agora o patrão sumir assim do nada sem nem bem avisar...
fecharam a loja como sempre faziam; Maneco seguia para encontrar-se com uma guria do último fim de semana e ele seguia sozinho.
na manhã seguinte, Maneco chegou em tempo de pegar o patrão pronto pra deixar um bilhete junto às chaves da mercearia em cima da mesa do escritório.
-- Ah, Maneco... Que bom. Eu vou sumir por uns dias e tô te deixando as chaves. Não vai pensar que eu não vou voltar. Até lá, se precisar de algum ajudante, deixei um dinheiro extra pra chamar alguém, ou mesmo pegar um desses meninos que às vezes aparecem por aí pra dar uma mãozinha c'o serviço.
-- Tá bom, patrão. Mas posso saber o motivo do sumiço?
-- Pois sim... Vou procurar uma coisa.
-- E eu posso saber o que é?
-- Vou procurar a felicidade. Ontem, 'cê vê, eu me peguei pensando e pensei que a minha vida não conhece muito disso.
-- E ela a gente procura?
-- Acho que algumas pessoas precisam procurar... Outras, não.
-- E o patrão faz que tipo?
-- O que nunca procurou e se pegou querendo conhecer.
-- Espera... Isso tudo é por causa da...
-- Isso tudo não tem motivo. Tinha que acontecer e agora eu vou ver como é.
-- Ah, tá bom, então, patrão.
ele saiu e voltou com uma última pergunta.
-- Maneco, 'cê é feliz?
-- Eu sou bem-humorado pra caralho!! ;0D

e saiu de vez.
foi para o Rio de Janeiro, experimentou as pequenas e as grandes coisas: dormira na praia olhando pra lua, comprara um pacote de doces de infância, lera livros com mensagens inconcebíveis, enchera a cara com uns amigos feitos num bar qualquer, apostara, dormira com algumas mulheres, parara ocasionalmente para pensar nela e imaginar coisas mais, visitara o Corcovado e o Pão de Açúcar, roubara revistas de bancas, machucara os pés jogando bola, participara d'um protesto pelos direitos de alguma minoria populacional... mas então batia aquela saudade de casa, da mercearia, das conversas fiadas do Maneco e dela, de vê-la, mesmo que fosse acompanhada.
um dia, então, acordou com a pá virada. era uma manhã cinza, chovia muito. estava sem paciência, não sabia que mais inventar para entreter-se e começou a pensar que sua busca fora algo assim, quase em vão, não fosse pelo divertimento que agora ía fatigado e cotidiano, sem apelo por assim dizer. quis fazer algo estúpido pra ver se fugia ao marasmo daquela liberdade toda e subiu bem alto nalgum lugar visível. já pronto para ameaçar o suicídio, ouvira disparos lá embaixo e pudera avistar o que seriam dois corpos estirados na rua, conseqüências d'um assalto à mão armada, ou algo que o valha.
-- Sou mesmo um idiota - pensou. e desceu.
a verdade é que a felicidade que ele procurava havia se distanciado, fato que jamais conseguiria explicar. afinal, dá mesmo pra se sentir assim tão distante do que não se conhece? parecia ilógico, mas ele respondia que sim.
decidiu voltar pra São Paulo, a terrinha, onde, e não sabia explicar por que (coisa de paulistano, não sabe?), tinha na dura poesia concreta de suas esquinas um cantinho aconchegante.
-- Ô Maneco, voltei!!!
-- Oooo patrão! Que beleza! E como é que foi a andança?!
-- Trouxe esta camisa pra ti, é lá do Rio.
-- Ahhhh, então foi pra lá que o patrão se mandou?! Fez bem, fez muito bem. Eu teria ido pra lá também.
-- É, é uma cidade bem bonita. Mas então... Aconteceu alguma coisa na minha ausência?
-- Não patrão. Houve só umas coisas aqui na frente que fizeram a gente fechar mais cedo, só.
-- Hm. Polícia?
-- Numa das vezes, sim. Teve briga feia aqui em frente, tinha um cara armado, daí eu resolvi fechar antes de acontecer alguma outra coisa. E, na outra, teve um jogo do Brasil aí que eu não podia perder...
-- Hm. De resto, tranqüilo?
-- Tranqüilo... Ah, e o patrão conseguiu encontrar aquilo que 'tava procurando?
-- Pois é, meu caro Maneco... A verdade é que eu não sei.
-- Não sabe?!
-- Não sei.
os dias prosseguiram normais, naquela ventura de espera que não cessa no humano. o que esperasse, ele não sabia ao certo. esperava por ela? por algum poema bonito? por um telefonema bizarro? por alguma aventura repentina, daquelas dos filmes que passam na tv? pela tal felicidade, com algum significado definitivo? esperava, enfim, pelo dia seguinte, pelas companhias de quarta, pelos causos do Maneco? não saberia nunca, pois esse tipo de espera é inerente à existência e ele tampouco percebera que começava a esperar. [porque a gente não percebe quando começa; só se dá conta quando parece não terminar.]
veio então uma sexta-feira de sol e ela entrou na mercearia, dona do mesmo brilho e de uma aliança reluzente. ele ficou inquieto, mas soube disfarçar bem. queria, porém, falar-lhe de alguma maneira e, para tanto, não conteve elogios: pequenos, simples, de bom gosto. Maneco reparava na tentativa de agrado do patrão e ria baixinho, sem ser visto, por conhecer bem a figura.
que mais eu posso fazer além de elogiar e ver o sorriso? nada. não posso nada, não vou investir nada, não sou assim. é moça de outro já. me contento em vê-la vermelha, pois é o que tenho, o que temos, o que posso.
todas as vezes, ele a atendia, e todas as vezes tentava arrancar-lhe um sorriso maior, mais bonito, mais doce.
então foi a vez de ela surgir com a pá virada, numa terça-feira... porque, e isso ninguém sabe explicar direito, sempre que a gente espera alguma coisa - espera muito -, alguma fagulhinha, alguma faísca sai.
-- Bom dia, dona moça mais bonita de todas.
-- Bom dia. - ela não sorriu.
-- Hm. O de sempre?
-- O de sempre, por favor.
(...)
-- Se a moça me permite a intromissão, que é que há?
-- Ah... É a vida...
-- Hm... Gozado a moça dizer isso.
-- Ué, e por que haveria de ser gozado?
-- Oh, não, não me leve a mal. Mas é que desde que a vi, a alegria da moça me deixa triste. E agora que a moça vai triste, também eu continuo triste... Insensatez...
-- Eu lhe faço triste, meu senhor?
-- Não, não a moça em si. A moça é linda, me encanta, mas me faz lembrar da alegria que me falta e da falta que me faz não vê-la por aqui todo dia pra tê-la comigo, por perto, para a vez em que eu puder tocá-la.
Ela faz cara de quem desgostou do que ouviu.
-- Ora, mas que atrevimento!
-- Não, não, a moça não entendeu - ela se retira, sem levar nada, com sua bolsa vermelha e o nariz empinado em sinal de desaprovação - (...) eu falava da alegria...

ela não quis voltar à mercearia. ouviu o que quisera ouvir e não, nem por um minuto considerou as vicissitudes da oratória... ele quisera ter se importado mais com o fato de a moça não ter aparecido de novo, porém deu por si que ela lhe valera apenas uma liberdade com a qual ele não conseguia se comprometer: aquela que a gente vê através dos olhos dos outros.
isso o fizera esperar... e ele, que antes de ser pequeno, o era tampouco, agora é triste. simples assim.

eleanor rigby, beatles