sábado, 10 de fevereiro de 2007

Virginiano (março/2005)

É um moço bem apessoado, cheio das manhas e dos bem-falares, com CULT escrito na testa. Ama um roque alternativo - daqueles bem Muse mesmo, Björk se brincar - e desfila metáforas para falar do que sente. Não é bonito, nem feio; seu grande charme está no papo e na maneira como dispõe as palavras como se quisesse parecer intelectual quando, na verdade, está sendo apenas ele mesmo.
Acha meu nome bonito e quis porque quis que nos casássemos hoje ou amanhã o mais tardar. Não ofereceu aliança, nem casa, comida ou roupa lavada. Disse simplesmente que, caso eu fosse para o Rio de Janeiro, me vigiaria para sentir que tenho quem olhe por mim.
Atira-me alfinetadas para que note a mim mesma em contradição; faz-me lembrar do tempo passado, do qual discorro sem maiores lembranças. Ele não. Parece que as tem, todas, conservadas como se cada dia fosse um pequeno passo anotado para depois.
Disse que dividiremos um pequeno apartamento com uma palmeira anã na sacada. O piso será de madeira corrida, os móveis, madeira marfim, as paredes, de algum provável tom de azul - que não seja bebê, nem super escuro muito menos cor céu - e a cozinha, branca como manda a receita. Teremos nossos DVD's favoritos na sala (Forrest Gump, Amélie Poulain, Gladiador, Moulin Rouge, Caindo Na Real) e, enquanto ele prepara o jantar - jurou ser ótimo cozinheiro, capaz de servir risoto num dia e churrasco coreano em outro -, estarei eu lá enchendo o saco, batendo os talheres na mesa só para brincar com a paciência que ele finge que tem [convenhamos, ele finge muito bem].
Hoje, inventou de me perguntar se lembrava de como nos conhecemos. Virginiano, parece imitar minha Mãe de vez em quando tamanho apego a datas e esbarrões. Claro que eu não tinha mais a mínima idéia de como nos conhecemos; fui meiga, mudei a conversa para um tom ameno (entretido que estava com a idéia de casamento, provavelmente achar-me-ía uma confusa, perdida no tempo sem lembrar da vez em que abri a janela do msn para conversar com o amor - por conveniência - da minha vida) e pudemos prosseguir sem grandes distúrbios. A propósito, conheci-o por acidente e, disso eu lembro ao menos, papeamos sobre a Teoria da Relatividade durante uma tarde inteira.
Acho que deveria seguir em frente com a minha vida e casar com ele. Estamos ambos no mesmo barco; tristes e desaventurados num sentimentozinho que ainda nos é segredo de casal.
Procura interessado entender minha maneira direta de esclarecer as coisas; deixa-me a falar com as paredes, pergunta, faz suposições. Procuro, talvez não com o mesmo tom de interesse, desvendá-lo sem grandes toques ou retoques. Ele gosta de café, não faz questão de animais e acha que a solidariedade é utópico... Inté.

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