terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Sentimentalismo Barato (novembro/2006)

Porque eu tenho lapsos... Lapsos onde as coisas me atingem de maneira explícita e eu me orgulho de não conseguir escondê-las. Sucedem sempre em curtos períodos, tipo uns três dias de emoções à flor da pele. Depois volto ao normal: aquela distância característica que faz todo mundo enfatizar o quão emotiva eu NÃO sou, de fato.
O meu barato neste período tem sido Damien Rice, um pouco daquela raiva infantil baseada no fato de Mamãe não me deixar passar uma noite fora de casa numa rave cultural, algumas lembranças confortáveis e, o que eu consagro como a grande novidade, uma consideração esquisita que nunca me prendeu por tanto tempo: eu de mamãe?
Já me imaginei muita coisa: atriz, caminhoneira, cientista, taxista, jornalista, advogada, veterinária, organizadora de eventos, executiva, presidente, revolucionária, jogadora de futebol, hippie, comediante, poeta, cantora, bateirista, puta, médica, avó, tia, namorada de um-uma-duas-três, deus, vidente, psicóloga, pedreira, caixa de supermercado, policial etc. Mas nunca consegui me imaginar como mãe, entende? Tipo fazer um enredo desse pensamento. Pois não é que me pego conseguindo nesses últimos dias? É... Eu de mamãe.
Quando eu imaginava, focava no porquê. "Não, porque eu não quero jogar no mundo mais um(a) pra sofrer, pra aprender lições que ele(a) não pedira pra aprender, pra me abandonar depois de criado(a)... Porque eu não quero sofrer as dores do parto e gravidez pra mim não passa de uma barriga com uma melancia dentro... Porque daqui a alguns anos, o planeta vai explodir e vai haver guerra por água e eu não quero um(a) pequeno(a) meu/minha sobrevivendo por aí, tampouco 'subvivendo'.".
Ah... Mas quem sou eu, senão construção feita a partir de pele mais lisa, cintura de violão, dois peitos, coxas fartas, rebolado, visão panorâmica, sensibilidade um tanto mais aguçada? Ora... Sou mulher. Senão pela personalidade, pela anatomia e por uma série de considerações biológicas haveria de existir o dia em que eu fosse me imaginar mãe.

Pois bem... Imagino-me mãe de um pimpolho a quem um dia eu ensinaria uns golpes espertos pra não levar excesso de bica nas brigas. Não sei como seria quando brigássemos, mas não ousaria bater nele. Pelo menos tal tática, comigo, só teria lugar quando a situação fosse simplesmente drás-ti-ca, fim do mundo, apocalipse meeeesmo. [Chega dessa merda de bater.] Vejo-me como aquela espécie de mãe que dá liberdade demais para o carinha: se quiser, ele escolhe as roupas, ele escolhe o corte de cabelo, ele decide se acredita ou não em deus. A minha função é expor para ele diferentes visões, não condicioná-las a minha preferência. Claro... Eu também não serei daquele tipo que assiste a filme pornô com o pimpolho na sala, nem vou mostrar logo do que se trata uma playboy, tampouco vou permitir que ele saia sozinho de casa com seis anos de idade. E não sei como é que vou fazer se tiver que deixá-lo com alguém. Acho que fiquei traumatizada e não quero que meu filho tenha que limpar o próprio vômito só porque alguém fez com que engolisse um suco que mais parecia veneno.
E vou tentar brincar com ele o máximo que puder. E ele vai acreditar em Papai Noel - e só isso não é uma opção (não sei realmente porquê). Antes de ser mãe, quero ser amiga e confidente, por isso, quando ele chegar àquela idade em que começam os rebuliços sentimentais e mesmo os sexuais, quero ouvi-lo. Porque antes de mandar nele, creio que preciso entendê-lo.
Bom... E se for menina, eu vou certamente apreciar o desafio. Então, que venha! É que às vezes eu carrego aquela impressão machista de que a menina precisa sempre de mais amparo, coisa que eu talvez não consiga fornecer, coisa que talvez não seja real.

(...) You can sit on chimneys
And put some fire up your ass
No need to know
What you're doing or waiting for:
But if anyone should ask?
Tell them I've been licking coconut skins
And we've been hanging out
Tell them God just dropped by to forgive our sins
And relieve us our doubt (...)

Um comentário:

Anônimo disse...

tudo muito bonito e tal...
mas você vai manter aqueles nomes?
tomara que seu filho seja capricorniano.