segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Message in a bottle.

Quando pequena, eu tinha a mania (ou o dom? ou a ignorância?) de imaginar as coisas certas. Até então, não passava pela minha cabeça a idéia de que alguém podia roubar ou matar tendo lá a sua grande porcentagem de razão. Aí eu assisti a Alladin e comecei a pensar que não fazia assim tão mal roubar comida quando se é faminto.
Quando menos pequena, eu adquiri o costume de assistir ao Jornal Nacional seguido de novela. Pra quê, né? ¬¬ O primeiro fazia o favor de mostrar que as coisas, a princípio certas, como governo, reflorestamento, Greenpeace, aeroportos e ONU, cometiam (inúmeros) erros, e o segundo ainda tentava - inutilmente - me segurar na crença de que, no final, tudo ficaria bem. Agora eu simplesmente perco meu tempo pensando "que final?".
As redações da professora de redação do colegial, ou as do ENEM, da FUVEST, da Cásper pedem que o aluno disserte sobre determinado assunto, geralmente relacionado a alguma pendência infeliz de sempre (isso quando eles não te fazem enrolar em cima daquela baboseira de a Internet ser um palco pra informação duvidosa), e proponha soluções. O negócio é que é muito difícil alguém aparecer com soluções originais válidas em questão de 50 minutos ou menos. Além do que, nós convivemos "muito bem" com a ampla gama de soluções já propostas e, no que diz respeito à eficácia, ao seu igualmente amplo arsenal de falhas, comumente administrativas. Eles só querem mesmo é que você se mostre um ser capacitado. Bah.
Quando mais menos pequena, então, eu perdi o costume de assistir ao Jornal Nacional e à novela. Não tinha o que fazer e brincava de escritório. Meu escritório tinha um nome modesto: "A.W.: Idéias Geniais". Foi então que o governador do estado de São Paulo ligou para a minha secretária, Cláudia. Cláudia era uma barbie com cabelo recortado e batom na cara que, um dia, pertencera à Mamãe. Pois bem, ele ligou pra ela e pediu pra falar comigo:
-- Alô seu governador.
-- Ôpa. Tudo bem?
-- Belêeza, seu governador. Diga.
-- Seguinte: quero encomendar um projeto, mas não faço a mínima idéia do que seria. Sei que meu mandato tem um objetivo principal: gerar empregos.
-- Tá ordenado. Te mando o troço pronto daqui uma semana.
-- *blá, blá, blá* [Elogios. Eu tenho o ascendente em Leão, portanto essa parte é altamente compreensível...]
Não precisei de uma semana. Em 4 horas, desenhei o que seria o estado de São Paulo, escrevi um texto falando resumidamente de como poderíamos gerar empregos levando energia elétrica aos cafundós. Usaríamos cabos ópticos e tudo passaria por baixo da terra, pelo menos nas cidades, pra evitar poda de árvores e acidentes com pipas. Para isso, precisaríamos de operários (os tais empregos). E eu acabei inventando os colégios técnicos (que já existiam, mas eu não sabia, então é como se tivesse inventado xD). Anyway, ficou lindo. Eu também fazia ganchos com a ocupação urbana e outras coisas, só que não lembro bem. Fiz há muito tempo e perdi o desenho.
Fato é que, por algum motivo, as coisas nunca são tão simples assim. E até as boas idéias, como os colégios técnicos, depois de um tempo, deflagram algum tipo de problema. Atualmente, o técnico é um cobre-faculdade; tu não fez engenharia, mas fez o curso de eletroeletrônica do teu colégio, o que não te dá o cargo de um engenheiro graduado, mas te possibilita o conhecimento necessário para desempenhar determinadas funções de engenheiro. Tu fica naquele não-chove-não-molha, saca? Naquele não-chove-não-molha típico de país de Terceiro Mundo, onde um desenvolvimento razoavelmente acelerado se choca com um sistema educacional de merda (vulgo Brasil, basicamente).
Agora, já mais crescida, eu saio por aí à procura de idéias, mensagens que, de algum modo, virem propostas certas, pra ver se recupero aquele discernimento bonito e eficaz da infância. Paro pra ouvir os caras no centro que fazem discursos empolgados e atiram bíblias no chão. Olho ao redor pra ver como as pessoas reagem e elas denotam interesse pela interpretação, mais do que pelo discurso.
Eu discuto com o pessoal na faculdade e é estranho. xD Não sei se isso acontece apenas com os jornalistas, mas é possível reparar numa tácita e concordante vontade de mudar o mundo. Todos eles querem fazer suas denúncias. Uma quer fotografar, a outra quer ser correspondente de guerra, o outro, que se interessa por política, faz seus comentários afiados, uma forma de protesto. Arnaldo Jabor, Marcelo Rubens Paiva explicam. Entretanto, também não dá pra deixar de notar os argumentos cansados. Então o que a gente vai fazer pr'o resto da vida é denúncia?!. É uma parte importante, mas não é tudo... A gente deveria fazer com a Amazônia a mesma coisa que fizeram com a Isabella: falar só dela, pra ver se adianta. Às vezes, eu olho pra eles e tenho medo de vê-los desapontados com os próprios motins...
Daí vou a shows de rock. Não costumo ser muito seletiva. Ultimamente, tenho ido a muito show de HC, por causa de uma amiga doida e vegan (aquele tipo vegeta que não come absolutamente NADA que provenha de animal). E então os caras falam dos animais ao microfone, enquanto aquele bando de gente se soca libera a agressividade acumulada na roda que se forma em frente ao palco. Eles têm todo um estilo de vida, algo pra se respeitar. O gozado é que metade das pessoas vai lá pela música. Não é pra saber das ONG's interessadas, nem pra comer quibe de soja. Daí eu lembro do furo que foi aquele Live 8 da vida, um festival de música organizado em torno de uma cúpula do G8, que se reuniu pra discutir quantos bilhões de dólares seriam repassados ao continente africano anualmente. Deu que a cúpula não resolveu porra nenhuma e o Live 8 foi nada mais, nada menos que uma oportunidade perdida de ver Oasis, Coldplay e Shakira playando ao vivo e de graça. Ponga.
Fico me perguntando onde foi parar o valor da mensagem... Eu ainda sou meio Cazuza, caçando uma ideologia. Mas daí eu olho ao redor e vejo que tá todo mundo assim: senão cético de vez, quase. Senão quase, entupido dos quiprocós.
Enfim, a sensação que dá é a de que eu levei muito pouco tempo pra ser invadida pela certeza de que tem sempre alguma coisa errada - e sem conserto - em tudo. Deveriam ter me deixado mais tempo com o Tintin e os meus filmes de Sessão da Tarde, onde todo mundo tinha vez e os babacas (sempre completos babacas) eram identificados e punidos, sem dúvida ou indulgência. E onde havia gente que lutava para que fosse assim.

heart in a cage, the strokes

Um comentário:

Anônimo disse...

Se eu fosse um presidente com alguma idéia na cabeça, eu consultaria o A. W. Idéias geniais.