sábado, 25 de outubro de 2008

das coisas que eu entendo (ou entulho)

apaguei os dizeres do quadro,
pintei depressa as paredes da sala,
joguei fora o sofá vermelho
fiquei só no quarto calado

julguei mal teus sentidos
tu dizia com os olhos
e eu confirmava em revolto remorso
que tudo continuava ali

há sonhos que pesam
memórias que sondam
histórias que cansam
e que, no entanto, perduram

queria me livrar das caixas
das queixas e peças deixadas
do que eu não vi acontecer
mas me deixei imaginar às minúcias

tenho tudo demasiado sentido
gotejado como chuva de calha
te tenho e trago no peito ferido
fogo morto que vem e espalha

espalha as cartas pelo chão
o ex-amor as músicas e o pó
e dessas coisas eu entendo bem
só não entendo por que vêm
mas nunca [em] vão.