terça-feira, 8 de abril de 2008

E eu que já quis ser presidente...

"O sistema engloba inclusive a própria crítica" - diz o professor de Teoria da Comunicação. Ele é baixinho e adora conjunções: períodos infinitos, poucas frases de efeito. "O sistema engloba inclusive a própria crítica" é o que absorvo do discurso. "O sistema engloba inclusive a própria crítica" e "essa maluquice classificatória, ela é complicada". O déficit de atenção voluntário me vale pequenas capturas, de frases e bocejos a rabiscos e distrações quaisquer. Moscas e revista Caras.
Às vezes, eu levo revista Caras de propósito. Sabe aquele pessoal que se diz subversivo, alternativo demais? É preciso dar uma quebrada no climão: entre Camus, Umberto Eco, Piauí, uma Caras.
Subversão: a lorota grogue dessa maluquice classificatória pós-moderna. Babaca no contexto antigo, pior ainda no contexto novo.
Às vezes, eu gostaria de não ser [parecer] tão alheia, seja às crianças defenestradas da semana, ao conflito no Tibet, às eleições no Paraguai, à taxa de analfabetismo no Brasil, aos apelos do Greenpeace.
Às vezes, eu queria querer mudar o mundo, mas não me pretendo Gandhi, ricaça filantropa, líder religiosa nem soldado. E agora que sei que "o sistema engloba inclusive a própria crítica" não vejo razão. Ou me desculpo apenas. De um ou outro modo, aprendo a conservar minhas perspectivas modestas.
Isso me torna alienada. Contudo, é bom lembrar que "essa maluquice classificatória, ela é complicada", o que me confere não somente o título de alienada, mas também de fatalista, apolítica, conformada, amoral, pé no chão etc..
A crítica está tão incluída no sistema que o fato de você não criticar, ou não desenvolver um senso crítico opinativo faz com que te critiquem.
Tenho por mim que o ser humano faria melhor se se dedicasse a consertar os próprios bagaços. Então as escolas só precisariam ensinar o bom português e princípios de ética. Enquanto os pobres trabalham e aprendem a falar errado.
Eu planto árvores ao longo do ano. Um dia, quero ensinar alguém a ler (ou pagar pra que aprendam, afinal, hoje em dia a gente dispõe desse tipo de luxo), nem que seja o meu próprio filho. Assim como quero ensinar pedinte com um filho no peito e o outro na mão a usar camisinha. E fornecer estoques de camisinha pra ver se ao menos um exemplar desse pessoal que produz esfomeados em escala industrial dá uma refreada.
"Isso significa protagonismo e isso é muito legal" - diz o professor.
Na real, é só mais uma maneira de tornar o cotidiano um pouco mais afável, sem qualquer revolução ou criticismo eloqüente. Revolução é sangüinária; a crítica, demasiado prolixa. A consciência de perspectivas modestas e o que ela nos faz fazer quando à vista de nossos problemas de sempre e dos detalhes cotidianos é bem mais melhor de legal, eficiente e pacífica. :0-

billie jean, michael jackson

Um comentário:

Pedro Zambarda disse...

Matou a pau, ouvindo Michael Jackson e lendo Caras XDDDD

Adoro Camus, mas isso não vem ao caso...

Mas, fato, eu adoro filmes americanos thrashes. Só não conta pro pessoal da Cásper, senão eles me matam XD

Beijão, Mel =*