sábado, 19 de abril de 2008

coisas que acontecem...

Ontem, me ligou uma tal de Mariana. Ela queria marcar uma entrevista para hoje; mencionou uma vaga de atendente e falou algo sobre chats. Trabalhar de segunda à sexta, das 15h às 23h, ganhando, no primeiro mês, 600 contos; no segundo, 650 e, a partir do terceiro, 700 fixos mais comissão. Não hesitei.
Fiquei pensando nisso e em que roupa vestir hoje. Esqueci logo da roupa. P.o.s.s.i.b.i.l.i.d.a.d.e.s.
Apesar de ficar imaginando coisas, quis manter os pés no chão pra não empolgar demais. Além disso, quando alguém coloca as palavras "chats" e "atendente" numa mesma e fugidia sentença, a gente desconfia. Só que os meus dedões dançantes das mãos começavam a girar involuntariamente, enquanto eu fazia considerações financeiras... Ou seja, de um ou outro modo, acabei me deixando levar.
Hoje, então, o grande dia. Eu com uma blusa azul, uma calça jeans stretch e botas chiques. Dei até um jeitinho de prender o cabelo para não passar a impressão de que ele tem vontade própria.
Chegando lá, um edifício comercial, super bem localizado, bem no meio do Itaim. Eu pensando "hm... Itaim, um edificiozinho comercial com câmeras, politicamente correto... Bacana, bacana.". Subi.

À porta, essa loira tingida, maquiada, com brincos grandes, corrente de Nossa Senhora e um decote não muito discreto. Educada. Igualmente muito "entregou o jogo": de olhar, já sabia do que se tratava. Fui entrando mesmo assim.
Lá dentro, uma outra loira. Essa tinha batom vermelho nos lábios; usava sapato de plataforma e tinha abusado do lápis de olho. Não disse oi tudo bem. (Isso é muito chato nas pessoas.)
Então a loira tingida, dos brincos grandes, me levou para a saleta onde, antes, encontrava-se a outra loira. Na tela do computador, uma foto da loira que havia saído, do rosto, com o mesmo batom vermelho e o mesmo contorno exagerado nos olhos.
Era um escritório todo branco - desde o chão até as mesas - que mais se assemelhava a um apartamento com diversos cômodos pequenos.
Começou a entrevista. Por um lado, super informal, o que é ótimo; por outro, meu pé esquerdo reclamando dentro da bota chique, que poderia muito bem ter sido substituída por um tênis. Por uns dois minutos, só a loira falou - daquele jeito camuflado. "Então, a gente trabalha aqui com três sites em particular; todos sites de entretenimento (...) sei lá o quê e você recebe em dólares. Já fui gerente de três escritórios e, em nenhum deles, recebi tanto quanto nesse. É coisa de às vezes tirar 1500 reais por mês, sabe? O "business" [ela usou esse termo o tempo todo] é realizado através de uma câmera de vídeo, estilo webcam, que você usa pra se comunicar com o cliente (...)". Daí, eu falei "só uma coisa. De que tipo de entretenimento a gente tá falando?". "Site de conteúdo adulto". "Tá. E o que exatamente eu teria que fazer?".
Foi uma longa explicação, ainda meio camuflada, sobre venda de "produtos" e "o quanto eu consigo segurar um cara (...), conta por tempo de conversa (...)". Eu insisti: "tem foto aí pr'eu ter uma idéia de onde e do que filmam?". Então ela mostrou... O que seriam as fotos de rotina: meninas (meninas digo, de 18 a, no máximo, 24 anos) seminuas - calcinha e sutiã - fazendo poses sensuais. As exceções incluíam o streap completo. E o streap completo, pelo que pude absorver da explicação camuflada, não era assim tão esporádico. Fico sabendo também que aquele papo de 700 fixos era apenas papo, que os ganhos mesmo são por comissão. E que não há benefícios.
"Há meninas que só conseguem faturar se tiram a roupa toda!" - ela diz. Uma loira espontânea. Disse também que o site não é acessado por brasileiros, ou seja, além de praticar o inglês, não há perigo de "o meu namorado, família etc" achar alguma foto minha por aí. Yeah, and I'm Madonna.
Concluímos a entrevista com o meu breve "vou pensar bem; te ligo qualquer coisa". Disse tchau, desci, tirei as botas, calcei os tênis e fui pr'o bar. Rindo e, ao mesmo tempo, tendo de me conformar.
Já em casa, quando Mamãe perguntou por maiores detalhes da entrevista, eu disse que a coisa toda era uma putaria... "Não é CLT".

três lados, skank