sexta-feira, 15 de junho de 2007

O lençol.

Está na Tabacaria que um dia Álvaro de Campos contou;
naquele canto do quarto que se usa pra falar com deus;
naquela tarde fria em que o romance começou de fato;
está naquela parte da música que a gente vive esperando.
À parte todos os detalhes capturados,
quem vai me dizer que não somos todos a mesma coisa?
Acredito em extensões de nós mesmos por simples lógica,
porque não posso querer ser nada,
mas também não posso ser alguma coisa
sem que haja quem tenha sido antes de mim.
Quero pensar que somos xerox. Cópias autenticadas,
autênticas só na aparência...
Porque, e me perdoem a presunção, às vezes
o que enxergo é apenas um enorme lençol:
sem cor definida, grande como o mundo, da altura do céu.
"Todos iguais, mas uns mais iguais que os outros".
Então, preciso que tu me pegue pra contar seu passado,
pra saber de ti o que sai do lençol,
pra tu deixar de ser cópia com trejeitos de autêntica,
pra ser uma cópia nossa, extensão do que eu sei,
do que eu sinto, do que a gente precisa.
Entende?
Feito isso, é então que tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Current Music: Ana (Maná)

Um comentário:

Artur Gelumbauskas disse...

Impressionante como conseguiu fazer eu imaginar cada frase, cada palavra sobre seu texto. Impactante sutileza de como enxergamos o mundo sem que já percebamos o quanto nossos sonhos se ofuscam.