misterioso luar de fronteira
derramando no espinhaço quase um mar
clareando a aduana
venezuela, donde estás?
não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
minha camisa estampada com o rosto de Elvis
a minha guitarra é minha razão
minha sorte anunciada
misteriosamente a lua sobre nada
não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
espalhe por aí boatos de que eu ficarei aqui
espalhe por aí boatos de que eu ficarei aqui
vem, mamacita, doida e meiga
sempre o âmago dos fatos
minha guerra e as flores do cactos
poema, cinema, trincheira
não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
um cego na fronteira, filósofo da zona
me disse que era um dervixe
eu disse pra ele, camarada
acredito em tanta coisa que não vale nada
não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
espalhe por aí boatos de que eu ficarei aqui
espalhe por aí boatos de que eu ficarei aqui
não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
velejando, viajando, sol quarando
meu querer, meu dever, meu devir
e eu aqui a comer poeira
que o sol deixará
não sei por que nessas esquinas vejo seu olhar
não sei por que nessas esquinas vejo seu olhar
terça-feira, 29 de setembro de 2009
domingo, 27 de setembro de 2009
they all know
É absurdo e fantástico ao mesmo tempo. Normalmente, eu não postaria esse tipo de coisa, porque é muito pessoal, mas o caso é que o evento merece uma atenção especial. Descobri que, ou a minha família me adora de verdade, ou é todo mundo bem mais liberal do que eu pensei.
'Tava discutindo com Mamãe sobre affairs da vida. Hoje em dia, eu já falo abertamente com ela sobre as meninas; ela faz uma certa cara feia, mas eu forço a barra, porque ela precisa saber e lidar com isso da maneira que for.
Foi a vez de a gente cair no papo "e se a família souber?". Comecemos aqui:
-- Já pensou se a Vó fica sabendo?
-- ... i.
-- Que foi?
-- Hihihi.
-- A Vó sabe???? O_O'
-- Sabe.
-- Você... Você CONTOU?!?! Ò.O
-- Sim, ué. Eu 'tava precisando desabafar...
-- Mas a Tia não sabe, né?
-- ... i.
-- A TIA TAMBÉM SABE???
-- Também sabe...
-- PUTA MERDA. Mas... Há quanto tempo tu contou?! O-o Eu voltei de lá ontem e...
-- Elas já sabem há mais de um ano.
-- OI???
-- É.
-- E o que elas disseram quando tu contou???
-- A sua Vó ficou mais séria, mas terminou dizendo que era fase. E a sua Tia reagiu estranhamente bem. Eu não consigo entender a sua Tia...
-- Uau. Elas realmente me amam, kra. ♥ ó.ò
-- A tua prima também sabe...
-- A Kátia?!
-- Essa mesma.
-- Você contou pra família toda?!
-- Não. Só pra elas. Mas a Kátia disse que já desconfiava.
-- Se ela sabe, a outra tia também sabe.
-- Muito provavelmente.
-- Então o Ricardo também sabe?
-- Não sei... Mas você sabe que a Kátia e ele são muito unidos e, diferente de você e do seu irmão, se falam bastante.
-- Puxa. É, então o Ricardo sabe. Rapaz, olha só que lindo. E eu continuo flertando com ele... Êlaiá. *-*
-- E eu penso que a mulher do seu avô desconfia.
-- Por quê?
-- Convenhamos que você não é daquelas que disfarça bem.
-- Eu disfarço MUITO bem, pô.
-- Quando quer. A maior parte do tempo você NÃO quer.
-- Bah.
-- É.
-- Então o vô é o único que não sabe?
-- Basicamente... Coitado. E eu não sei se a sua tia do Rio desconfia.
-- Uh.
-- ...
-- E se o vô soubesse?
-- Ah... Ele sim teria um treco.
'Tava discutindo com Mamãe sobre affairs da vida. Hoje em dia, eu já falo abertamente com ela sobre as meninas; ela faz uma certa cara feia, mas eu forço a barra, porque ela precisa saber e lidar com isso da maneira que for.
Foi a vez de a gente cair no papo "e se a família souber?". Comecemos aqui:
-- Já pensou se a Vó fica sabendo?
-- ... i.
-- Que foi?
-- Hihihi.
-- A Vó sabe???? O_O'
-- Sabe.
-- Você... Você CONTOU?!?! Ò.O
-- Sim, ué. Eu 'tava precisando desabafar...
-- Mas a Tia não sabe, né?
-- ... i.
-- A TIA TAMBÉM SABE???
-- Também sabe...
-- PUTA MERDA. Mas... Há quanto tempo tu contou?! O-o Eu voltei de lá ontem e...
-- Elas já sabem há mais de um ano.
-- OI???
-- É.
-- E o que elas disseram quando tu contou???
-- A sua Vó ficou mais séria, mas terminou dizendo que era fase. E a sua Tia reagiu estranhamente bem. Eu não consigo entender a sua Tia...
-- Uau. Elas realmente me amam, kra. ♥ ó.ò
-- A tua prima também sabe...
-- A Kátia?!
-- Essa mesma.
-- Você contou pra família toda?!
-- Não. Só pra elas. Mas a Kátia disse que já desconfiava.
-- Se ela sabe, a outra tia também sabe.
-- Muito provavelmente.
-- Então o Ricardo também sabe?
-- Não sei... Mas você sabe que a Kátia e ele são muito unidos e, diferente de você e do seu irmão, se falam bastante.
-- Puxa. É, então o Ricardo sabe. Rapaz, olha só que lindo. E eu continuo flertando com ele... Êlaiá. *-*
-- E eu penso que a mulher do seu avô desconfia.
-- Por quê?
-- Convenhamos que você não é daquelas que disfarça bem.
-- Eu disfarço MUITO bem, pô.
-- Quando quer. A maior parte do tempo você NÃO quer.
-- Bah.
-- É.
-- Então o vô é o único que não sabe?
-- Basicamente... Coitado. E eu não sei se a sua tia do Rio desconfia.
-- Uh.
-- ...
-- E se o vô soubesse?
-- Ah... Ele sim teria um treco.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Ora pois...
Devido a acontecimentos recentes, eu me pus a pensar que o universo de fato conspira. Aliás, não só conspira, como se atualiza e domina as novas tecnologias. Ele pegou um e-mail solto na web, colocou no meu msn e fez com que permanecesse por lá, contrariando todas as expectativas. Dali três anos, do absoluto nada, rola uma conversa, uma revelação e a primeira de muitas saídas que se converteriam numa amizade muito da boa. Dali outros dois anos, quando tudo parecia certo e definidio, rola mais coisa, novamente do absoluto nada. E agora a gente pára pra pensar: "então tudo isso 'tava no script?".
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
[1]
Minha Mãe me ensinou muita coisa. Aliás, não, não é assim. Eu é que aprendi muita coisa com ela. Ensinar, na maior parte dos casos, é um verbo figurativo. Não há realmente ensino; há repetição e aprendizado. Mas, enfim, eu aprendi muita coisa com a minha Mãe.
Aprendi, por exemplo, que não dá pra ser ateu; que é preciso curtir o sol; que, uma hora ou outra, você vai ter que tomar um partido e que "liberdade é saber dizer não". E aprendi até coisas um tanto menos importantes, por exemplo, certas artes - que nem ela domina muito bem - do tipo respeitar-se e não se arrastar. Ou ainda se esforçar pra encontrar a motivação do dia, se preciso, até num saquinho de bexigas coloridas. Nós duas dominamos o conteúdo teórico dessas desimportâncias até que bem, mas a prática leva irremediavelmente à fossa-sofá.
Anyway. Amanhã, a minha grande fonte de aprendizados e força completa 50 anos de idade. Já tenho as piadinhas prontas, o presente também. Só não tenho o bolo, porque ela quer manter a forma.
E a boa verdade é que eu não sei o que é ter uma Mãe mais velha que eu. Ela não aparenta a idade que tem... E a energia é a mesma de uma menininha louca por barbies, que, ok, não enxerga muito bem.
Há algum tempo, lembro de ter perguntado a ela quando foi que a Vó envelheceu. Ela me disse que foi de uma hora para outra. E eu, secretamente, fico tentando me preparar para o dia em que for a minha vez de sacar que Mamãe ficou velhinha.
De certa maneira, num processo bem lento, mais acentuado em determinados dias, eu tenho assistido: vez em quando, as marcas sobressaem, ela reclama dos joelhos, das costas, da vista e eu vejo as raízes grisalhas, que ela se apressa em pintar de roxo avermelhado.
Sabe, ela não gosta nadinha de ver o tempo. De certa forma, ela também se assiste, só que de outro ângulo... Eu pergunto e ela explica que é como se você ainda fosse jovem, mas dentro de um corpo que não acompanha mais o seu ritmo e as suas expectativas para o futuro.
Penso que isso deve ser um daqueles grandes aprendizados, que você nunca termina de aprender e carrega não se sabe pra onde. Um aprendizado filho da puta, diga-se de passagem.
É que, veja bem, eu não sei como é não me sentir meio louca e cheia de energia e sexy e entupida de possibilidades para o futuro e, de alguma forma, absolutamente crente no tempo que eu tenho pra estabelecer e desfazer todos os laços do mundo. E, principalmente, não sei como é não ter um corpo que me acompanhe.
Todo mundo se torna o que é quando é jovem. E a não ser que você desenvolva alguma doença degenerativa, é na pele de um jovem que você se projetaria se o mundo não tivesse espelhos. E se não tivesse essas dores esquisitas nos joelhos gastos.
Mamãe reclama.
Caraca. Se a velhice foi inventada por alguém, então esse alguém era muito sádico.
Aprendi, por exemplo, que não dá pra ser ateu; que é preciso curtir o sol; que, uma hora ou outra, você vai ter que tomar um partido e que "liberdade é saber dizer não". E aprendi até coisas um tanto menos importantes, por exemplo, certas artes - que nem ela domina muito bem - do tipo respeitar-se e não se arrastar. Ou ainda se esforçar pra encontrar a motivação do dia, se preciso, até num saquinho de bexigas coloridas. Nós duas dominamos o conteúdo teórico dessas desimportâncias até que bem, mas a prática leva irremediavelmente à fossa-sofá.
Anyway. Amanhã, a minha grande fonte de aprendizados e força completa 50 anos de idade. Já tenho as piadinhas prontas, o presente também. Só não tenho o bolo, porque ela quer manter a forma.
E a boa verdade é que eu não sei o que é ter uma Mãe mais velha que eu. Ela não aparenta a idade que tem... E a energia é a mesma de uma menininha louca por barbies, que, ok, não enxerga muito bem.
Há algum tempo, lembro de ter perguntado a ela quando foi que a Vó envelheceu. Ela me disse que foi de uma hora para outra. E eu, secretamente, fico tentando me preparar para o dia em que for a minha vez de sacar que Mamãe ficou velhinha.
De certa maneira, num processo bem lento, mais acentuado em determinados dias, eu tenho assistido: vez em quando, as marcas sobressaem, ela reclama dos joelhos, das costas, da vista e eu vejo as raízes grisalhas, que ela se apressa em pintar de roxo avermelhado.
Sabe, ela não gosta nadinha de ver o tempo. De certa forma, ela também se assiste, só que de outro ângulo... Eu pergunto e ela explica que é como se você ainda fosse jovem, mas dentro de um corpo que não acompanha mais o seu ritmo e as suas expectativas para o futuro.
Penso que isso deve ser um daqueles grandes aprendizados, que você nunca termina de aprender e carrega não se sabe pra onde. Um aprendizado filho da puta, diga-se de passagem.
É que, veja bem, eu não sei como é não me sentir meio louca e cheia de energia e sexy e entupida de possibilidades para o futuro e, de alguma forma, absolutamente crente no tempo que eu tenho pra estabelecer e desfazer todos os laços do mundo. E, principalmente, não sei como é não ter um corpo que me acompanhe.
Todo mundo se torna o que é quando é jovem. E a não ser que você desenvolva alguma doença degenerativa, é na pele de um jovem que você se projetaria se o mundo não tivesse espelhos. E se não tivesse essas dores esquisitas nos joelhos gastos.
Mamãe reclama.
Caraca. Se a velhice foi inventada por alguém, então esse alguém era muito sádico.
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