quarta-feira, 19 de março de 2008

porque hoje eu vou para aí te ver

O homem tem duas opções: fazer o que ele quer ou fazer o que ele tem que fazer. Se ele puder passar a vida fazendo o que quer, tanto melhor, mas todo mundo sabe que a coisa não funciona por aí.
Tipo que tem essa menina na sala que fala muito "tipo". Além de ter aderido à mania do "véi", tô começando a adquirir o "tipo". Tipo assim... O ó.
Minha Mãe diz que a gente tem que se imaginar trabalhando com alguma coisa; a faculdade é uma coisa, trabalhar é outra. Ela, por exemplo, detestou a faculdade, mas gosta do que faz. Eu... Eu gosto da faculdade. Ponto. •
Não gosto de aulas, contudo. Considero-as inúteis. Depois de uma época, passei a repudiá-las. Às vezes, dentro do que você tem que fazer, há a opção de fazer o que você quer - ou melhor, não fazer o que você não quer... Então leio, desenho, troco bilhetinhos, escrevo merda. Desenvolvi um considerável déficit de atenção voluntário.
Outro dia, perguntei pra essa menina que curte filosofia qual a diferença entre hedonismo e epicurismo. Ela me deu uma explicação e logo em seguida perguntou por que porra eu não perguntava isso pr'o professor; respondi que a última pessoa pra quem pergunto alguma coisa é professor. Gosto de opiniões. E explicações. Diferentes. Erradas ou não.
Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?

O capricorniano jornalista do blog supimpa costumava servir de exemplo. Aquele cara que tu pega pra cristo e diz "quando crescer, quero ser como ele". A joça é que o menino me fez a maior desfeita da paróquia: eu entro na faculdade, ele abandona o emprego e vira dj. Como se não bastasse o ultraje, abandona o blog e, ao que tudo indica, arranja um namorado! Prêmio revelação.
Agora não sei se faço dança do ventre, aprendo sânscrito, curso moda ou viro dj também... Quem sabe me dedico à acupuntura?
Tsc tsc.
Pela internet, mantenho contato com uma jornalista que absolutamente de-tes-ta o que faz. Tipo assim: se tu procura incentivo, desvie.
A única coisa à qual tô me atendo, no momento, é um diploma de comunicações. (Diploma de jornalista é phoda. Se pá, consigo me enfiar, inclusive, em agências de publicidade.) Minto. Não é só isso que me segura. É também o fato d'eu não fazer a mínima idéia do que fazer no lugar disso.
Talvez as coisas fiquem um pouco mais claras quando eu arranjar um emprego. Falando em emprego, um cara ligou aqui em casa, após ver um anúncio que coloquei no Primeira Mão. (Um anúncio decente, pôrra.) Falou da vaga e, logo na primeira pergunta, reparei que não seria dessa vez:
-- "Andrea, você é alta?".
Pensei em perguntar algo como "por quê? o balcão é uma torre?", mas, objetiva, apelei pra mentira:
-- "Tenho 1,60!" - e algo me diz que esse não era realmente o tipo de 'alta' que ele procurava, pois, alguns segundos depois, ouvi apenas o famoso "entraremos em contato".

Meu samba tá atrelado. Meu jeito é meu, mas, é certo, às vezes é por teimosia.
É simples: todo dia, quando saio e faço o que tenho que fazer, não posso deixar de pensar que tô enfurnada no Another Brick In The Wall. Profissionais seguidos de profissionais, bêbados seguidos de bêbados, homossexuais seguidos de homossexuais, anti-sociais seguidos de anti-sociais (...). Sabe quando tu olha ao redor e repara que anda faltando individualidade? E repara que o sarcasmo é capaz de se reproduzir? E que todo mundo quer um estepe?
Tô pegando nojinho, sobrevivendo à base de rótulos: aqui eu sou maluca; lá, amoral; com esses, estranha; com aqueles, basicamente gay. Comigo, intransigente de princípios, ¬¬ fato que me torna enrustida, "autodivertida", arrogante, insistente, por vezes incomunicável, ou seja, praticamente um junco solitário que, de vez em quando, desce da colina pra dançar com os macacos - e, sim, pra ser rotulada de maluca, amoral, estranha e gay. Pra viver. ó.ò
Coisinha sacana essa: às vezes, faço o que não quero pra poder fazer o que quero.
Às vezes, me penso daqui uns aninhos e não assisto a uma jornalista, não assisto sequer a uma enfermeira. Assisto a uma menina ainda meio perdida, que trabalha numa livraria, faz experiências cabulosas em casa com béqueres e poções coloridas, cozinha à toda, lê livros bacanas e revistas de fofoca, cuida do Miguel, seu gato, e do Sandoval, um golden retriever, mora com seus dois amigos gays e leva a namorada pra passear de moto.
Sabe o que é ter medo de desenvolver L.E.R. profissional? Sabe o que é ter medo de desenvolver um L.E.R. profissional antes mesmo da vida profissional começar?!
Sabe o que é se sentir a little bit like Charlotte all the time?
Bah.

carpe diem, aldebert

Um comentário:

Pedro Zambarda disse...

Seja o que for, acho que o que mais conta é que você descobre sobre você mesma =]

Isso não é ligado a profissão nenhuma, mas poucos profissionais possuem tamanha sincronia como pessoas.

Beijos!