quinta-feira, 19 de julho de 2007

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Ítalo é um cara legal, nos seus 40 e poucos anos de idade, muito carismático e brincalhão. Sempre que vai à loja, os funcionários gastam o maior tempo trocando idéia com ele.
Hoje, então, eu recebi a notícia de que os dois filhos dele, uma menina de 17 e um menino de 12, morreram no acidente de ontem, com o avião da TAM que atravessou a Washington Luís. Quem assistiu de manhã à reportagem, em algum canal da tv aberta, viu uma mulher sentada, fumando desesperadamente um cigarro e um homem alto ao lado. O homem era o Ítalo.
Conferi os nomes dos dois na lista de passageiros divulgada hooooras após o ocorrido (absurdo!) e fiquei meio impressionada. Não sei realmente por que, mas comecei a rezar baixinho pra ele. Porque, há uma semana atrás, o Ítalo e os filhos foram à locadora e eu acabei descrevendo pra Mãe, mais tarde naquele dia, a relação dos três.
Era uma família alta. A menina era meio alternativa demais, sempre mascando chiclete, fã de carteirinha do Alfred Hitchcock, com alguns anéis nos dedos e muita, mas muita maquiagem nos olhos. O menino era altão também, mais rechonchudo, fanático por games; frequentemente checava o preço do console do Wii e estava sempre abraçando o pai. E vice-versa.
Era bonito vê-los juntos. Daí, chega um dia qualquer e BUM!: tudo desaba. E justo com o cliente mais carismático da loja. A vida se torna um pontinho, sabe? Porque quem um dia virou pra você e disse "oi", assim, sem mais nem menos, sem nenhum grande afeto ou compromisso, do nada vira um grande pedaço de carvão, cuja identificação dependerá dos restos d'uma arcada dentária. É uma porção inacreditável de frieza.
Nessas horas, eu lembro daquilo que o Gandalf fala para o Frodo em O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (o filme mesmo): algo como "é muito fácil apontar para alguém e julgar o que este merece ou não". E lembro também da cena em que a Celine diz para o Jesse, em Antes do Amanhecer, que ela teme aqueles segundos de consciência quando você tem a certeza de que vai morrer. Kra, eles eram meninos... Eu queria entender a lógica desse sistema.
A coisa soa tão insensata, incompreensível que chega a ser injusta. Afinal, por quê? Por que logo estas pessoas?!
Quando parte da vontade de alguém ou de uma massa, a gente chama de atentado, assassinato, terrorismo, insanidade, arranja um motivo e ameniza com senso de (in)justiça. Mas e quando não é da vontade de ninguém e acontece? Fatalidade é ver que, além de nós mesmos, uma parte de nós tem que confiar na sorte, no acaso, numa intuição.
Em verdade, sei que não há o que entender... Queria simplesmente que não tivesse acontecido.
Um vôo de rotina da TAM, um dia frio de julho, mais de 180 vítimas e, no entanto, eu não era uma delas. E tudo o que eu posso dizer é ainda bem.

Há muito tempo, meu priminho rezou na minha frente uns pedidos pra se fazer sempre que der. E eu vou colocar aqui, porque é ocasião d'eu voltar a fazer esse tipo de coisa. Não pra voltar a acreditar em si, mas pra rezar e só, entende? Afinal, rezar é pedir, e pedir não custa nada...
Era algo mais ou menos assim "(...) protege meu pai, minha mãe, meus priminhos, minhas priminhas, meus amiguinhos, minhas amiguinhas, meus avôs e avós, meus tios e tias (...)", meu irmão, os doentinhos, os moradores de rua, as criancinhas, os velhinhos, os jovens, os adultos, os animais, as plantas, o mundo todo... peço também sorte e o quanto for possível de paz. e queria pedir também muita força e coragem para um amigo nosso que tá passando por um momento difícil. que ele fique bem e os filhos dele também.

"(...) o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído (...)".

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