domingo, 21 de setembro de 2008

Intrusa

Ontem à noite, saímos eu, Davi e Mamãe para ir ao cinema assistir àquele lixo O Procurado. No meio do caminho, paramos para comer e eis que se inicia toda a discussão.
-- Eu conheço um casal de namorados que faz competição de arroto. Um dia, também, eles estavam no elevador do prédio dele e daí ela disse que ele soltou AQUELE gás e uma moça acabou adentrando o recinto. Coisa que era rara, porque ele mora num apartamento como o nosso, onde tu raramente topa com os vizinhos. Sei lá... Acho legal quando você consegue ficar assim tão à vontade com a pessoa. Tipo (...) [eu]
-- Argh. [Mãe]
-- Que nojo. Isso eu acho feio. [Davi]
-- Ué. Por que é feio?
-- Porque é uma intimidade que você torna cotidiana. [Davi]
-- É a mesma coisa que fazer cocô de porta aberta. [Mãe]
-- O.o' Eu faço xixi de porta aberta quando só estamos nós em casa.
-- E isso não quer dizer que eu goste. [Davi]
-- Xixi tudo bem, cocô não. [Mãe]
-- É, nisso eu concordo. [eu]
-- Hoje em dia tá em moda liberar geral e que se foda. Daqui a pouco vai ter maconheiro em tudo que é canto. [Davi]
-- Melhor. [eu]
-- MELHOR? [Mamãe e Davi em uníssono]
-- Eu acho.
-- Ah, tu diz isso porque nunca namorou e nunca adquiriu intimidade com alguém, de tu ficar na casa da pessoa, d'ela ficar na sua.
-- É, eu nunca tive isso, admito. [digo, enquanto Mamãe e eu trocamos olhares sugestivos]
-- E daí qual vai ser a graça do mundo? Em todo canto, você vai ter uma mina pelada. Você vai acabar com a graça de tudo. Daqui a cem anos, o mundo vai acabar. [Davi]
-- Vai mesmo acabar, eu não nego, mas acho que não vai ser pelo fato de tu encontrar minas peladas, ou um maconheiro em tudo que é canto.
-- Nós estamos virando animais. Prazer imediato é a solução pra tudo. [Davi - Mamãe aplaude]
-- As relações andam muito superficiais. Outro dia, eu fui jantar na casa da gerente do banco e ela mostrou uma foto de uma festa de debutante da filha de não sei quem. A filha fazia 15 anos e parecia ter 20. E a mãe parecia, literalmente, se não era de fato, uma mulher de programa. As gerações se copiam e acabam virando versões pioradas. [Mamãe]
-- Não acho que seja assim.
-- Tudo anda muito fácil. As meninas da minha idade não prestam, são todas iguais.
-- Calma lá, também não é assim. [Mamãe e eu, em uníssono]
-- Se for pra analisar dessa forma, os meninos da minha idade também não prestam.
-- Na minha idade, os homens não prestam. Todos eles querem sexo de cara quando a gente sai. Não dá pra desenvolver nenhum tipo de vínculo se a gente não começa pelo sexo. [Mamãe]
-- Mas, até aí, todo homem é assim depois de uma certa idade. [eu]
-- Por isso, por causa dessas relações de prazer imediato, você tem homens e mulheres frustradas. Eles podem não mostrar frustração aos 20 anos de idade. Agora, pega esses mesmos com 30, 40 anos. [Mamãe]
-- Ow. Eu só mencionei a competição do arroto simplesmente porque acho legal esse nível de conforto do relacionamento. Não é que precise virar um hábito. Não é um hábito. É uma brincadeira, pô. [eu]
-- Nojenta. [Davi e Mamãe]
-- Ah, vá. (Com raivinha do puritanismo do Davi.)
-- Hoje em dia, você não tem opção. Essa idéia de ser diferente, ir contra tudo e todos só serve pra deixar o mundo mais superficial. [Davi]
-- Muito pelo contrário. Eu acho que, hoje em dia, a gente tem é MUITA opção. Tá todo mundo muito acessível e (...)
-- Exato! Você tem muuuuuita opção e nenhuma delas presta, porque há uma necessidade de trepar com todo mundo e conhecer tudo e todo mundo. [Mamãe]
-- Então meow. E qual é o problema de tanto acesso? Não vejo problema algum em você poder trepar com esse, com aquela, com três, com quatro. As coisas estão SIM mais superficiais, mas isso não quer dizer que a opção de ser ou não superficial tenha sumido. [eu]
-- Você se coloca num grupo de amigos e o que acontece? Você é automaticamente influenciado por eles! [Davi]
-- É uma questão cultural isso! [Mamãe]
-- Gente, calma lá. Vocês subestimam demais o poder crítico e as reações que ocorrem a todos esses movimentos. Pega a gente mesmo, por exemplo. Tu, Davi, que acha todas as minas iguais e que não quer relacionamentos superficias. Ou tu, Mãe, que é a mulher de 40 e poucos anos de saco cheio de homem que só quer trepar. Vocês reagem e não estão nessa sozinhos! Todo mundo tá sabendo que o mundo anda muito rarefeito. Mesmo eu que, apesar de defender essa liberalização geral, também gosto de relacionamentos de maior valor, e sou menina de uma pessoa só. Hoje você tem mais opções e tem também a opção de dizer não a todas elas. [eu]
-- Mas e como é que eu faço? Não consigo criar nenhum tipo de vínculo com homem. E se for pra dizer não de cara, eles somem, não persistem.
-- Tu precisa aprender a criar ambiente, Mãe. No teu trabalho não dá, porque são raros os homens lá. E, se quer conhecer alguém pela internet, tá de fato fodida, porque Internet é codinome pra companheiro de cama. Quer saber o que é legal? Continue a fazer os cursos que tu anda fazendo. Faça um monte, procure cursos interessantes, com temas que te interessem. Estamos em São Paulo. Curso bom, grátis e cheio de gente interessante é o que não falta. Na faculdade, Davi, certamente tem mina interessante. Assim como, na minha faculdade, tem, entre todo aquele bando de homem que só quer trepar, um outro bando - talvez menor, não nego - de homem que quer coisa séria. Você tem que ter opções, pra poder fazer escolhas. Hoje em dia, tu tem todas as opções do mundo... E não sei como vocês conseguem reclamar disso.
-- Ah meow, a verdade é que eu nasci na época errada.
-- É, eu também. Apesar do meu terapeuta dizer que, se você nasceu numa época, é porque esse é o tempo certo pra você.
-- Bom, eu sinto que nasci na época certa. Apesar de todos os pesares.

o.o' A aquariana enfiada no meio dos dois virginianos. Onde foi que eu amarrei o meu bodinho, meldels? XD

perdido en un barco, maná